O caro leitor viu aqui, há cerca de uma semana, todos os detalhes sobre os dois novos lançamentos da Kawasaki - as naked Z900 e ZH2. Não viu? Então confira aqui! Agora é hora de contarmos como é acelerar essas duas super máquinas. Ontem publicamos a a avaliação da Z900, e hoje é a vez da ZH2. Segure-se na poltrona!
A Z H2 é descendente direta da H2, uma superesportiva que foi vendida por curto período no mercado brasileiro. Era uma superbike com visual arrebatador e imponente, um motor monstruoso com sobrealimentação - que entregava até 243 cv - e preço que superava os R$ 160 mil. A versão para as pistas, batizada de H2R, tinha inacreditáveis 326 cv de potência e custava mais de R$ 300 mil. Isso lá em 2019.
A Z H2 é uma espécie de derivação daquelas duas, só que em versão naked e mais próxima das dimensões humanas de controle e segurança. Assim como na H2 e na H2R, o motor da Z H2 tem quatro cilindros em linha, 998 cm³, 16 válvulas, comando duplo e sobrealimentação. Mas aqui entrega 200 cv de potência a 10.500 rpm e 14 kgf.m de torque a 8.500 rpm.
Ainda é insano? Sim. Mas hoje várias motos entregam esse nível de potência. Só que algumas ainda são difíceis de pilotar em baixos giros, quando ficam soluçantes - o motor "pede" aceleração para "encher" e desenvolver bem. Na Z H2 o motor tem uma calibragem calculada para que as respostas em baixas e médias rotações sejam "domáveis".
Desta forma, a Z H2 pode ser usada normalmente, no dia a dia, e não apenas em pistas livres ou track days. Claro que não é um modelo para o bate-e-volta no trabalho todo dia (a não ser que você trabalhe a 100 quilômetros de casa), mas permite aquelas saídas noturnas e aqueles rolezinhos de fim de semana sem sustos.
A Z H2 também é recheada de tecnologia. A caixa de ar, por exemplo, é de alumínio - se fosse de plástico como em todas as motos, não resistiria à pressão. Tem, ainda, suspensão dianteira invertida com tubos de 43 mm e ajustes de pré-carga, compressão e retorno, monochoque traseiro Uni-Trak a gás com ajustes de pré-carga e compressão, freio dianteiro Brembo com dois discos de 320 mm e pinçcas radiais M4.32, freio traseiro com disco simples de 260 mm e pinça flutuante, quickshifter bidirecional, embreagem assistida e deslizante, e transmissão com anéis dentados retos - que proporcionam encaixes mais certeiros e sao mais resistentes que os anéis dentados com "pontas".
Na eletrônica, o mesmo pacote da Z900: IMU de seis eixos, controle automático de velocidade, quatro modos de pilotagem, ABS com atuação em curvas, controles de tração e anti-empinamento. E um recurso a mais: o controle de largada, que maximiza a aceleração nas arrancadas, mas evita a perda da tração.
O painel é menor que o da Z900: aqui, são 4,3 polegadas. Mas tem dois modos de exibição e comandos no punho esquerdo. Curiosamente sua operação me pareceu mais fácil do que na Z900. Então, fui com a motona para a pista do autódromo Raceville, em Brotas, interior de São Paulo.
Confesso que eu estava meio apreensivo no começo. Já pilotei motos como a H2, a Ducati Streetfighter e a Harley-Davidson Sportster S, todas muito potentes e nervosas e nada fáceis de serem conduzidas por quem não é piloto profissional (meu caso).
Mas bastaram as primeiras dezenas de metros para ver que a Z H2 é bem diferente destas mencionadas acima. Com aparência invocada, grande e algo pesada, esta Kawasaki é bem mais fácil de pilotar do que parece. Selecionei o modo "Road", um pouco mais suave do que "Sport", e fui pra pista.
Já na saída dos boxes passei da primeira para a segunda marcha, e nela fiquei por alguns segundos surpreso pelo ronronar do motor - sem soluços ou engasgos. Ao entrar na pista fui subindo as marchas e a moto manteve o mesmo comportamento: motor enchendo progressivamente, sem trancos nem barrancos.
Dei uma primeira volta bem mansa, para me acostumar com o peso e o porte da Z H2 - esta não é tão levinha e dócil quanto a Z900. Depois, fui aumentando a velocidade progressivamente.
As voltas restantes me trouxeram surpresas em série. A Z H2 é infinitamente mais domável do que suas antecessoras, e não só em baixos giros e nas acelerações: também nas curvas e nas frenagens as respostas são ais suaves.
A moto é bruta? Sim. Mas basta que o piloto mantenha a civilidade ali em cima, que não sofrerá sustos. A Z H2 acelera com extrema força, o ganho de velocidade é incrivelmente rápido - porém progressivo - e num átimo você está perto dos 200 km/h.
É preciso tomar cuidado: mesmo sem as proteções aerodinâmicas de uma superbike, a velocidade aqui te engana. A 180 km/h sua sensação é de estar a 100 km/h. O nível de vibação é mínimo e o de ruídos, quase igual - nas reduções você escuta um curioso assobio que parece vir da caixa de ar de alumínio e, nas acelerações, um "wooof" que deve vir do compressor da sobrealimentação. Te garanto: é uma experiência inebriante!
As trocas de marchas são tão tranquilas quanto na Z900 - aqui também temos embreagem assistida e deslizante e o quichshifter, o dispositivo que permite trocas sem acionar o manete na embreagem e sem aliviar o acelerador. E as frenagens são mais ríspidas que as da Z900, mas não tanto quanto na antiga H2.
Em resumo, a Z H2 foi uma grande surpresa: embora seja uma super naked com 200 cv de potência, não exige tanto braço de piloto para ser conduzida - desde que o cidadão tenha bom senso e respeite seus limites. Mas se você quiser pilotá-la com agressividade e levá-la aos seus - distantes - limites, aí é melhor que seja um excelente piloto, mesmo.
E o preço desse brinquedo? Ficou bom, pois não chega nem perto do cobrado pelas antigas H2 e H2R - motos literalmente restritas a muito ricos e/ou milionários. A Z H2 será vendida por R$ 119.990 - valor que não é baixo, claro, mas que é inferior aos de concorrentes diretas, como a Ducati Streetfighter, que custa R$ 136.990, e a Harley-Davidson Sportster S, de R$ 129.700. Até dá pra sonhar, não é mesmo?