Fiat Titano: anda bem? Bebe muito? Leia impressões

Aceleramos a novidade do segmento de picapes médias, que vem com preço atrativo pra roubar clientes de Hilux, S10 e cia

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André Deliberato
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Depois da apresentação completa da Fiat Titano, que você conferiu aqui no WM1 na quinta-feira da semana passada (14), hoje vamos falar um pouco sobre o que achamos da picape ao guiá-la.

O percurso de test-drive foi na Chapada dos Guimarães (MT), na semana passada. Foram cerca de 75 quilômetros de chão, sendo 25 em estrada de terra - bem simples e pouco acidentada, diga-se.

Será um ponto a ponto sobre o que achei da Titano, ambientá-la no que precisará enfrentar no segmento e ainda concluir o texto dizendo o que penso que deve acontecer com a picape no Brasil.

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Como foi o rolê de Fiat Titano

Entro na picape e logo reparo no acabamento. Algumas peças - como aqueles botões pintados de cinza, abaixo dos comandos do ar-condicionado - são claramente oriundas do projeto da Peugeot Landtrek, a picape que deu origem ao novo modelo da Fiat.

Logo percebo que a Fiat certamente tentou economizar onde fosse possível, até para fazer valer o investimento de vender a Titano em nosso mercado. Isso é comum na atual fase da indústria.

A posição de dirigir me agrada. O volante tem boa empunhadura e a central multimídia ficou bem posicionada na parte superior do console, de modo "flutuante". O quadro de instrumentos com visor central colorido é outro item bacana, assim como os bancos dianteiros com ajustes elétricos.

Mas vale lembrar que estamos na versão Ranch, de R$ 260 mil. A configuração de entrada Endurance sequer oferece sistema multimídia, embora tenha um "radinho" com conexão via Bluetooth.

Fiat Titano 2025 e André Deliberato
Fiat Titano tem preço para roubar clientes de Hilux, Ranger e cia. Não é boa como as rivais, mas vai vender
Crédito: André Deliberato/WM1
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Me ajeito no banco, ajusto o retrovisor, afivelo o cinto e decido regular a coluna de direção. Atenção: a alavanca que "solta" e "prende" o volante é muito dura, o que dificulta um pouco o manuseio.

Dou partida e desprendo a direção, que estava travada. Pesada demais para os parâmetros atuais. A resposta está no tipo de assistência utilizada pela Fiat: hidráulica, e não elétrica, como na maioria dos carros recém-lançados.

Boto o câmbio em "D" - aqui falamos de um automático convencional de seis marchas - e noto que a tração está no 4x2, mas que os próximos quilômetros seriam de asfalto. Saímos dessa maneira.

Em duas pessoas e com o ar ligado no máximo - a Chapada vivia um dia de 36ºC do lado de fora. Na sombra.

Como anda a Fiat Titano?

Logo nos primeiros 100 metros já sinto o peso da picape - são 2.150 quilos em ordem de marcha, isso sem considerar líquidos, combustível, fluídos e os dois ocupantes. Com tudo, algo perto de 2.400 quilos.

O problema não é o peso, mas a distribuição das massas e a forma como o motorista sente isso ao dirigir. Nos primeiros quilômetros, parece que a Fiat Titano fica devendo uma boa performance, como se o motor ainda não estivesse amaciado ou como se tivéssemos saindo da concessionária com o hodômetro apontando menos de 10 quilômetros.

Segundo a Fiat, o zero a 100 km/h da Titano Ranch é feito em 12,4 segundos e a velocidade máxima é de 175 km/h. Na sensação real, foram cerca de 15 segundos. Aquele torque tradicional e robusto de carros movidos a diesel não está tão presente, inclusive em retomadas de velocidade.

"Talvez seja uma escolha da Fiat ao utilizar esse câmbio de relações mais longas para privilegiar o consumo de combustível" - você, caro leitor, pode imaginar.

Longe disso. De acordo com dados oficiais apontados pela fabricante, a Fiat Titano 2.2 turbodiesel é capaz de fazer 8,5 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada. Em nossas mãos, ela não passou de 7 km/l - rodando predominantemente em estrada.

Outro ponto importante que precisa ser relatado: os pneus tinham característica mais lameira e não haviam sido ligeiramente murchos para que pudéssemos rodar fora do asfalto. O que isso muda na prática? O nível de trepidação: mesmo em velocidades menores que a máxima da via, a dianteira tremia muito, causando certo incômodo.

Em um momento em que as picapes médias sofrem metamorfoses para se tornarem cada vez mais parecidas com carros de luxo ou SUVs familiares e confortáveis, a Fiat Titano mostra ter seguido um caminho mais focado no trabalho.

É como se voltássemos no tempo e a Titano estivesse chegando ao mercado em 2016. Só que estamos em 2024, e temos Toyota Hilux e Ford Ranger mostrando para onde esse segmento deve caminhar.

Fiat Titano (2)
A Fiat Titano tem a maior caçamba do segmento e também o menor preço
Crédito: Divulgação
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Como a Fiat Titano anda na terra?

Não levamos a Titano ao limite do off-road. Rodamos em estradas de terra batida com um pouco de cascalho e, em alguns trechos, areia um pouco mais fofa, mas nada que demandasse o uso do 4x4.

Não acho que a picape passe vergonha nesse aspecto. Mas não é dessa vez que poderemos provar todas as suas habilidades no fora-de-estrada - mais para frente, com um carro de testes em mãos, ficará mais fácil.

Na areia e no cascalho, tudo tranquilo, tanto no sistema 4x2 quanto no 4x4. Nesse ponto, a trepidação excessiva sumiu. Deu tempo de prestar atenção nos equipamentos internos e reparar que faltaram algumas coisas...

Quais são os equipamentos da Fiat Titano?

É verdade que a versão mais cara vem com central multimídia com CarPlay e Android Auto, quadro de instrumentos parcialmente digital e chave inteligente, mas alguns recursos mais modernos não estão na lista.

Eu precisava carregar meu iPhone e estava sem meu cabo USB-C - na Fiat Titano, são oferecidas três entradas do tipo USB-A (duas no console e uma para os passageiros do banco de trás) e não existe carregador sem fio. Fiquei na mão.

Outra coisa: a imagem da Titano quando as câmeras 360° são ligadas não tem uma boa resolução. É uma sombra preta da picape, mas com os detalhes de suas curvas que poderiam ser mais caprichados.

Fiat Titano

Fiat Titano projeta imagem da picape na câmera 360°, mas resolução não é muito boa
Crédito: WM1
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Em segurança ativa, o único equipamento oferecido é um alerta para saída de faixa - portanto, nem na versão de R$ 260 mil ela oferece sistemas que hoje são comuns, como frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo (ACC) ou corretor para escapadas de faixa.

Longe disso: a Titano não tem nem sensor de ponto cego. Pelo menos há monitoramento da pressão dos pneus, sensores de chuva e crepuscular (ou seja, os faróis são automáticos) e câmeras 360°.

Também senti falta de faróis e lanternas full-LED - na Ranch, o canhão principal e as luzes de rodagem diurnas (DRLs) são em LED, mas as outras lâmpadas são halógenas, assim como em todas as peças das versões Endurance e Volcano.

Em resumo, na minha humilde opinião: a Fiat Titano é uma picape que chega atrasada ao Brasil, sem alguns features que são essenciais hoje em dia. Se ela tivesse chegado dessa forma em 2015 ou 2016, sua estreia seria mais impactante. Não dá para negar que o consumidor brasileiro evoluiu muito.

A posição de dirigir da Titano é boa, mas o acabamento não ajuda e faltam equipamentos importantes
Crédito: Divulgação
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Conclusão: vai vender?

Aí a história é diferente. A Fiat sabe vender picape - hoje, é a líder no segmento de compactas (com a Strada, que também é o carro mais emplacado do Brasil desde 2021) e entre as intermediárias (onde quem domina com folga é a Toro, desde 2016).

A Titano, na visão da Fiat, chega para "completar" a família de picapes da empresa, que tem dois best-sellers em nosso mercado. O produto de modo geral não é ruim, apesar de ter chegado com um importante atraso.

Mas aposto que vai responder da forma que a Fiat espera. Tem preço para isso.

Outra coisa que precisamos lembrar: a Fiat tem mais de 500 concessionárias. Para emplacar as desejadas 1.000 unidades/mês - que são os 10% de share da categoria mirados pela marca -, é preciso que cada loja venda duas unidades em 30 dias. A meu ver, molezinha.

E ainda vale dizer que os preços de R$ 220 mil, R$ 240 mil e R$ 260 mil devem cair mais de 10% cada na venda para frotistas, a grande arma da Fiat nos últimos anos. Isso faria a versão inicial custar menos de R$ 200 mil.

Em resumo, como dissemos, a Fiat Titano está longe de ser o melhor produto da categoria, mas tem muitas chances de ser vista com frequência por aí. O que mostra como o trabalho na Fiat vem sendo bem feito.

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