Ricardo Gracia: 'Quero chegar à Fórmula 1 em 2026'

WM1 entrevistou uma das grandes promessas do automobilismo brasileiro; saiba quais são seus desejos e anseios

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Marcus Celestino
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Ricardo Gracia pode atender por todos os adjetivos tipicamente atribuídos a um talento precoce. O jovem iniciou a carreira em 2011, aos seis anos. A ascensão foi rápida. Em 2015, conquistou o título brasileiro de Kart na categoria Rotax Mini Max. Dois anos depois já era o campeão nacional na Júnior Menor.

Em 2019, Ricardinho representou o Brasil nos campeonatos Europeu e MundIal de Kart. Encarou pelotões difíceis, compostos por gente da estirpe de Gabriele Mini, Dino Van't Hoff, Sebastian Montoya, Maya Weug e Dino Beganovic. Todos esses, vale frisar, integrantes de academias de grandes equipes da Fórmula 1 ou pilotos que já deram o salto para categorias além dos bravos mares do kart. Gracia, claro, quer fazer o mesmo.

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Na realidade, o brasileiro já tem todo o caminho traçado, ao menos mentalmente, até a categoria máxima do automobilismo. Seu ambicioso plano prevê que ele chegue à Fórmula 1 em 2026. E, vale a gente abrir aqui um espaço para dizer que talento não falta. Mas será que só isso é suficiente? O WM1 conversou com Ricardo Gracia para saber qual é a visão do jovem acerca disso.

Confira abaixo a entrevista com Ricardo Gracia, promissor piloto brasileiro que, hoje, disputa o Campeonato Europeu de Kart, pela Forza Racing. Saiba quais são os desejos e anseios do jovem que acabou de assinar com quatro novos patrocinadores para a temporada.

WM1: Você começou a carreira aos seis anos e seu currículo, hoje, já é muito extenso e vitorioso. O que te levou a iniciar a jornada no automobilismo?

RICARDO GRACIA: Meu pai corria de motocross quando era mais novo e eu peguei isso. Só que ele sofreu alguns acidentes e ficou com medo de me deixar começar no motocross. Aí me colocou no kart aos seis anos. Comecei brincando numa pista perto da minha casa, numa cidade vizinha, em Penápolis. Fui melhorando, melhorando e aos oito anos fui para São Paulo para começar o kart profissionalmente.

WM1: Como foi o início da carreira profissional? E o primeiro título? Como foram esses primeiros passos?

RICARDO GRACIA: Comecei aos oito anos na categoria cadete e depois fui para a Rotax Micro Max, onde consegui ser campeão brasileiro em 2015, em Interlagos. Foi meu primeiro título. Ser campeão brasileiro, para um "cadetinho", um menino pequeno, é um sonho. No ano seguinte fui vice na categoria do "kart grande", do kart "normal", digamos, e em 2017 consegui ser campeão brasileiro de novo, (em evento) no Beto Carrero. Foi bem legal.

Ricardo Gracia
Ricardo Gracia compete atualmente pela Forza Racing no Europeu de Kart
Crédito: Divulgação
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WM1: E, depois disso, como foi representar o Brasil no Europeu de Kart?

RICARDO GRACIA: Quando fui campeão brasileiro, fui convocado pela CBA para disputar a competição - tanto eu quanto o vice-campeão. Fomos representar o Brasil no Academy Trophy, que acontece todo ano. Cada país do mundo seleciona dois pilotos para correr três corridas na Europa. As minhas foram na França, na Itália e na Bélgica. Foi minha primeira experiência na Europa. Foi muito legal.

Foi um choque de realidades muito grande, porque o kart europeu e o brasileiro são bem diferentes. Depois do Academy Trophy, em 2018, comecei minha jornada aqui na Europa, representei o Brasil no Europeu e no Mundial de Kart em 2019.

WM1: Além do contraste em termos de equipamento, você sentiu alguma diferença também na qualidade do pelotão?

RICARDO GRACIA: Senti bastante a diferença, porque no meu primeiro ano fiz só um teste e três etapas do Campeonato Europeu e uma do Mundial. Para um piloto que corre aqui na Europa é muito pouco. Por exemplo, o Gabriele Mini (atual campeão da F4 Italiana), meu companheiro de equipe, fez o ano inteiro. Fez WSK inteira.

E aí foi, por isso, muito difícil no começo. A diferença entre os pilotos era muito grande, de décimos. E um décimo aqui te dá várias posições no grid, enquanto no Brasil são dois, três décimos. Mas o Gabriele Mini foi um ótimo companheiro de equipe, me ajudou muito, e esse ano foi de aprendizado.

Ricardo Gracia
"A diferença entre os pilotos [na Europa] era muito grande, de décimos."
Crédito: Divulgação
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WM1: Hoje você já se sente, imagino eu, muito mais pronto. Mas como foi no comecinho? Você sentiu que havia uma falta de incentivo, de investimento, no Brasil e, por isso, quando chegou à Europa foi um choque? Ou o choque foi mais em decorrência de questões referentes à adaptabilidade?

RICARDO GRACIA: Acho que foi uma soma das duas coisas. O problema no Brasil, sinceramente, é o atraso que a gente tem. Na Europa, por exemplo, corremos com motores mais rápidos que os do Brasil e, quando cheguei aqui, tomei um choque de velocidade.

Depois que fiquei um ano aqui na Europa e voltei para o Brasil, em 2019, cheguei e já ganhei a Copa do Brasil de Kart. Acho que falta ainda um pouco de atualização, de sair um pouco da zona de conforto e se espelhar mais no que é feito aqui na Europa. Isso tanto para equipes, quanto para equipamentos e pistas.

WM1: Você recebeu os incentivos para encetar a carreira de quem? Você tem um aporte? E como é hoje quanto ao time, quanto à preparação física e mental?

RICARDO GRACIA: Vou fazer esse ano completo com a Forza [Racing] e tenho o Diego, meu preparador, que vai cobrir a parte de alimentação e também da meu condicionamento físico e mental. Até porque são áreas muito importantes. Também tenho os patrocinadores, as pessoas que me ajudam. Tem também o meu pai, que me dá uma força fantástica.

E eu faço também aulas de italiano com uma professora do Brasil, pois é muito importante aqui no âmbito do automobilismo. No meu começo aqui na Itália não falava nada de italiano, só inglês. Fiquei com muita vontade de aprender por causa da língua, mas também porque era uma necessidade muito grande.

WM1: E quanto tempo você faz de treino físico? Como é a preparação?

RICARDO GRACIA: A gente faz uma hora por dia, todos os dias. Estamos implementando um novo plano, que vai dar mais resultados. Também faço mentalização todos os dias, para me deixar um pouco mais calmo e não cometer, por exemplo, erros em tomadas de tempo.

WM1: Seu pai hoje tem que subsidiar parte da sua jornada, da sua carreira. No futuro, o plano é, por meio de patrocinadores, ingressar na Fórmula 4? Você e o staff já têm algum planejamento?

RICARDO GRACIA: Nosso plano era fazer, já no ano passado, o campeonato de kart e depois começar na Fórmula 4. Mas como o Mundial de Kart este ano vai ser (pela primeira vez) no Brasil, não poderia perder a oportunidade de disputá-lo. Por isso, vou ficar no kart mais um ano, pela Forza, e no ano que vem vou fazer a Fórmula 4 Asiática.

Ricardo Gracia
Brasileiro tem como objetivo estar no grid da Fórmula 1 em cinco anos
Crédito: Divulgação
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Nunca andei de fórmula, nunca testei. Então acho que no ano que vem, na F4 asiática, vai ser um ano de muito aprendizado e com certeza será muito bom (...) Estamos de olho nos times e vamos decidir isso mais para a frente.

WM1: E depois quais são os planos? Mais um ano de Fórmula 4? Pulo para a F3?

RICARDO GRACIA: O plano é fazer um ano de F4, dois anos de Fórmula 3, um ano de Fórmula 2 e, depois, Fórmula 1.

WM1: E você acredita ser necessário entrar numa academia de fábrica, ou de uma equipe de Fórmula 1, para ter esse caminho facilitado? Ou você acha que é possível chegar meramente à base do talento?

RICARDO GRACIA: Nunca entrei numa academia de fábrica, mas tenho certeza de que (o caminho) é facilitado para os pilotos que visam a Fórmula 1 e suas categorias de acesso. Mas também não posso dizer que seja impossível, como você disse, chegar na base do talento. Temos muitos pilotos que chegaram assim. Mas creio que sim, fazer parte de uma academia não seria ruim. Muito pelo contrário, ajudaria bastante.

WM1: Embora haja maior igualdade de equipamento do que na F1, na base você geralmente tem times muito fortes, como a Prema, que são meio caminho andado para o piloto que quer ficar na frente do grid. A ideia é tentar uma vaga de cara num time desse porte ou você crê que dê para mostrar resultado numa equipe intermediária?

RICARDO GRACIA: A vontade de tentar entrar num time forte, como Prema e ART, é muito grande. Mas a gente também tem que ter consciência do budget, do orçamento que nós temos. Penso que, independentemente da equipe, sempre vou dar o máximo e tenho certeza que meu esforço trará resultados.

Gracia diz que fazer parte de academia de fábrica facilita caminho até F1, mas não é única alternativa
Crédito: Divulgação
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WM1: Você já pensou na possibilidade de não conseguir ingressar na Fórmula 1? Você tem alguma alternativa para o futuro, como IndyCar ou uma categoria de turismo?

RICARDO GRACIA: Não. No momento meu foco é só a Fórmula 1.

WM1: Ainda sobre F1, hoje não temos um piloto brasileiro no grid da categoria. O último full time foi o Massa, em 2017. Por que você acha que o Brasil, atualmente, não tem um piloto na Fórmula 1?

RICARDO GRACIA: Acho que houve um gap geracional muito grande. O Massa saiu e, enquanto isso, o [Felipe] Drugovich e o [Gianluca] Petecof começavam a trilhar seus caminhos. Agora penso que temos mais pilotos brasileiros nas categorias de base, e com condições de chegar à F1.

WM1: E você acha que esse gap foi acentuado pelas exigências da FIA, que passou a pedir que o piloto chegasse à F1 mais "rodado", com mais quilometragem, e não surgisse apenas com um patrocinador forte e pulasse algumas etapas?

RICARDO GRACIA: Claro que se não houvessem essas exigências para a obtenção da superlicença, seria muito mais fácil chegar à F1 com um patrocinador muito forte.

WM1: Em resumo, filhos de bilionários e o Max Verstappen atrapalharam a carreira de muitos brasileiros talentosos (risos).

RICARDO GRACIA: Sim, sim (risos).

WM1: Bom, para fechar, esse ano, além do Mundial em Birigui, você corre Macau. Certo?

RICARDINHO: Sim. Vamos correr Macau no final do ano. Nunca fui lá e espero que seja uma corrida muito legal.

WM1: Você já tem alguma expectativa sobre ritmo, desempenho no Mundial e em Macau?

RICARDINHO: Posso dizer que não, porque tudo depende da corrida, né? Só na semana (da prova) a gente consegue saber, ter uma ideia. Acredito que tenho uma boa chance de vencer o Mundial, que vai acontecer na minha casa. Vou com tudo, quero ganhar o Mundial. Já Macau, não conheço a pista. Vou com o objetivo de aprender, mas visando sempre a vitória.

Ricardo Gracia disputará Mundial de Kart em casa, no Speed Park, em Birigui, no mês de outubro
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