Uma das principais potências mundiais no agronegócio, o Brasil possui mais de 18 milhões de trabalhadores rurais segundo levantamento recente da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq/USP). Embora represente apenas cerca de 19% do total de profissionais do país na ativa, para se ter uma ideia, esse contingente é superior à população de mais de 130 países!
E o universo automotivo possui uma parcela inquestionável de importância no dia a dia desses trabalhadores! Afinal, é quem facilita o transporte de frutas, verduras, carnes, entre outros insumos, além de levar uma parcela desses trabalhadores por longas e irregulares estradas. E alguns dos modelos utilizados por esses trabalhadores se tornaram carros clássicos.
Nesta matéria, o WM1 relembra alguns desses carros clássicos que fizeram muito sucesso por chácaras e fazendas Brasil afora.
Nada mais justo do que começar essa lista de carros clássicos do nosso interiorzão com um modelo que levava rural até no nome!
Lançada nos Estados Unidos como Willys Jeep Station Wagon, em 1946, o Rural Willys teve 182 mil unidades produzidas entre 1958 e 1977 no Brasil. Uma longevidade considerável que se deve em muito a robustez e polivalência desse simpático SUV.
O Rural contava com duas opções de motorização: 2.6 ou 3 litros, ambas de seis cilindros em linha. Aliás, vale destacar que o motor 2.6 foi o primeiro motor a gasolina fabricado no Brasil, com potência máxima de cerca de 91 cv a 4.400 rpm.
Já a versão 3 litros passou a ser produzida em 1970, pouco após a Ford assumir o controle das operações da Willys-Overland no Brasil. O motor BF-184 – o mesmo que equiparia alguns Maverick, a partir de 1973, oferecia potência máxima de 112 cavalos, alcançava velocidade máxima de 142 km/h, 24 km/h a mais que o “primo” 2.6 litros.
Porém, muito além de sua motorização, fato é que outros dois motivos fizeram desse SUV uma excelente opção para o dia a dia de trabalho rural. O primeiro era a tração nas quatro rodas, que garantia a locomoção inclusive em territórios muito acidentados.
Já o segundo motivo era o generoso porta-malas de 1.298 litros, com carga útil de nada menos que 500 quilos!
Pense em um veículo com muita história para contar. Um verdadeiro representante dos carros clássicos. Esse é o Toyota Bandeirante! O carro foi produzido no Brasil por nada menos que 39 anos, entre 1962 e 2001. Trata-se do segundo modelo com mais tempo em linhas de produção, perde apenas para as 56 primaveras da Kombi (1957 a 2013).
Muito mais que essa longevidade, o Bandeirante também se destacou por ser um camaleão da indústria automotiva nacional. O SUV esteve disponível em quatro versões: jipe curto, jipe longo, camionete e caminhão pequeno.
Ao longo de suas quase quatro décadas de fabricação, contudo, o modelo jamais apresentou mudanças muito incisivas em seu design. De fato, seu foco era a robustez. Não à toa, até os anos 1980, era comum que concessionárias de tratores usassem o Bandeirante no meio rural para chegar a lugares onde os veículos demandavam manutenção.
Embora esse amplo portfólio já fosse suficiente para credenciá-lo ao posto de eficiente opção ao trabalho rural, outros aspectos reforçam essa condição, como a tração nas quatro rodas e uma autonomia adequada para circular no interior brasileiro. E, para cumprir esse segundo ponto, foi necessária uma adaptação logo na chegada ao país, em 1962.
Em vez do beberrão motor original 2F da Toyota, o off-road foi equipado por um propulsor Mercedes-Benz OM-324, de 3.4 litros a diesel, com potência máxima de 79 cv. O motor ganhou um apelido bastante sugestivo à época: Britadeira. Mas convenhamos que conforto sonoro não era muito a meta dos proprietários de carros naqueles tempos...
A Série 20 da Chevrolet foi lançada em 1985 para substituir a Série 10, que teve boa aceitação no Brasil durante suas duas décadas de produção (1964 a 1984). A Série 20 era composta por três modelos: a D-20, a A-20 e a C-20. A inicial de cada picape correspondia ao combustível utilizado nas versões diesel e álcool, enquanto a C era movida a gasolina. Uma ótima sacada da Chevrolet para atender às mais variadas preferências do consumidor.
Mas essa não era a única diferença entre os modelos da série, que contava com duas motorizações. A D-20 utilizava motor Perkins Q20B4 de 3.9 litros e quatro cilindros em linha, que fornecia potência máxima de 86,4 cv a 2.800 rpm.
Já as versões A-20 e C-20 eram equipadas por um motor GM 4.1, com seis cilindros em linha. Aliás, vale destacar que esse era bem mais potente que o Q20B4 da D-20, com potência máxima de cerca de 137 cv a 4.000 rpm.
No comparativo entre ambos, o GM 4.1 tinha uma relação de nove quilos a menos por cv (15,1 kg/cv, contra 24,1 kg/cv), além de 22 km/h a mais em velocidade máxima (144 km/h a 122 km/h).
Por outro lado, a versão a diesel oferecia uma autonomia muito maior que suas irmãs a etanol ou gasolina. A título de exemplo, o D-20 de 1986 tinha uma autonomia de quase 980 km em rodovia, mais que o dobro dos 475 km da A-20 e quase 60% a mais que os 616 km da C-20.
Mesmo lançada sem tração nas quatro rodas – algo que só foi incluído na versão picape da linha, em 1990, a Série 20 logo caiu no gosto do trabalhador rural por conta de sua robustez e bom trabalho em terrenos acidentados.
Um dos grandes responsáveis era o sistema independente de suspensão dianteira, dotado de bandejas superiores e inferiores, molas helicoidais e amortecedores telescópicos de dupla ação.
O trio da série 20 deixou de ser produzido em 1996, porém ainda hoje é comum vê-lo na ativa em propriedades rurais pelo país.