A Toyota anunciou, no início do mês, que irá iniciar o processo de encerramento das atividades na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, no fim do ano. As atividades serão transferidas para unidades do interior do estado. Mais antiga linha de produção da marca no país, inaugurada em 1962, a planta foi responsável por dar vida a um dos ícones do 4x4 no Brasil, o jipe Bandeirante. O modelo foi vendido de 1958 até 2001 e é considerado uma das pedras fundamentais na consolidação da Toyota por aqui.
Os primeiros Bandeirante foram apenas montados por aqui sob o nome Land Cruiser FJ-251, em 1958. Esse primeiro modelo era basicamente um jipe com capota de lona. Sob o capô, um motor Toyota 2F, de 3.9 litros, seis cilindros, movido a gasolina, capaz de render 110 cv. Disposto, mas beberrão, o motor foi substituído três anos depois, em 1962, mesmo ano em que o Land Cruiser passa a ser fabricado no Brasil.
O primeiro Bandeirante produzido em São Bernardo do Campo chega com motor Mercedes-Benz, menos potente e movido a diesel. Tratava-se do OM-324, um quatro cilindros que rendia 78 cv e ganhou o apelido de "britadeira" entre os proprietários do utilitário.
A nacionalização também fez o modelo ganhar mais versões, além da tradicional com capota de lona e estilo de jipe. Foram lançadas ainda a configuração com capota de aço, uma perua, com entre-eixos alongado e uma quarta, a TB51L, que adicionava uma caçamba e fazia do bandeirante uma picape.
Houver ainda versões com cabine dupla, caminhonete longa com caçamba, cabine dupla com caçamba, cabine dupla com caçamba encurtada e uma cabine dupla com rodado traseiro duplo, raro de se ver hoje em dia.
O entre-eixos do modelo variava de 2,28 metros na versão jipe a até 3,35 m na variante cabine dupla com caçamba. A capacidade de carga das versões picape do Bandeirante podiam chegar a até 1,1 tonelada na caçamba.
O motor Mercedes-Benz de 78 cv permaneceu como motor do Bandeirante até 1973, quando deu lugar ao propulsor OM-314, uma versão mais potente, 3.8 litros diesel que desenvolvia 85 cv de potência. A mecânica alemã só sai de cena em 1994, quando a marca japonesa começa a fabricar um motor próprio, o 14B, que tinha quatro cilindros e chegava a 96 cv.
Nessa motorização, o consumo de combustível era bem aceitável: 9 km/l na cidade e 12 km/l em trecho rodoviário. A autonomia do tanque diesel de 63 litros garante até 756 km de autonomia ao utilitário.
A transmissão do modelo era inicialmente de quatro marchas, com caixa de transferência de tração longa, e posteriormente, em 1990, passou a ser de cinco velocidades. Algumas melhorias de suspensão também foram feitas ao longo do tempo, inicialmente, com eixo rígido e feixes de molas. Perto do fim de sua produção, passa a adotar um incremento com barras estabilizadoras.
Já a direção foi mecânica até a década de 90, quando também foi modernizada e passou a adotar sistema hidráulico.
Em sua trajetória, o Bandeirante passou por poucas mudanças estéticas e atualizações. Essa falta de novidade, apesar da sua credibilidade, fez com que o modelo perdesse espaço aos poucos no mercado nacional. O Plano Real deu um empurrão para que o fim se antecipasse com um boom nas importações de carros por aqui.
Foi em São Bernardo do Campo, no dia 28 de novembro de 2001, que cerca de 500 funcionários participaram da cerimônia de encerramento da produção do Bandeirante. Ao todo, o modelo ficou vivo no mercado por 43 anos e emplacou pouco mais de 104 mil unidades. À época de sua despedida, a Toyota já tinha outros modelos como o Corolla nacional que havia chegado às concessionárias da marca em 1998.
Nos últimos anos, a fábrica de São Bernardo do Campo mantém apenas a produção de peças que servem a outras unidades de produção da marca no país e para importação.