A pandemia do coronavírus mudou hábitos de consumo e, de certa forma, acelerou os processos de digitalização, em especial de fabricantes e concessionárias de veículos. Hoje, as marcas investem pesado nos canais virtuais, o que traz desafios, que foram o tema da live da Webmotors desta quarta-feira (13/5).
O debate teve mediação de Eduardo Jurcevic, CEO da Webmotors, e participação de André Novaes, diretor do Santander Financiamento, Antonio Filosa, presidente da FCA para a América Latina, Angel Martinez, vice-presidente Comercial da Hyundai Motor Brasil, e Marcos Calliari, CEO da Ipsos.
Um dos aspectos levantados no live foi justamente as estratégias digitais para o período durante e depois da pandemia da Covid-19. Até porque a quarentena mudou de imediato o comportamento do consumidor brasileiro, que passou a ter atenção maior ao e-commerce.
Eduardo Jurcevic abriu o debate online justamente com um dado que ilustra esta nova realidade do segmento automotivo. Levantamento da Webmotors mostra que 59% dos usuários do maior portal de vendas de carros do país está disposto comprar um carro de forma totalmente online.
A plataforma, inclusive, lançou recentemente o CarDelivery, que reúne lojas e concessionárias que fazem todo o processo de venda de automóveis de maneira digital.
Esses novos hábitos também se refletiram diretamente nos fabricantes de automóveis. Segundo Antonio Filosa, apesar da queda nos emplacamentos que atingiu todo o mercado, hoje 48% das vendas se iniciaram como Leads (termo que mostra intenção de compra de cliente no ambiente virtual). Antes, esse índice ficava abaixo de 15%.
“Além de contar com números menores, temos de contar com processos de vendas diferentes, pois o consumidor está se comportando de maneira diferente. Por isso vai haver uma intensificação dos canais digitais e o Lead vira o ponto de partida para as marcas desenvolverem suas estratégias de vendas”, explica o presidente da FCA.
Na Hyundai, o crescimento nas negociações digitais também foi expressivo. Representavam 28% antes da pandemia e das medidas de contenção social. Agora, 48% de todos os veículos comercializados pela marca sul-coreana no Brasil têm origem nos canais virtuais da empresa.
Angel Martinez ressalta a importância das ferramentas. Antes mesmo da crise gerada pela Covid-19, a Hyundai já atuava fortemente com vendas pelo InstaShop e agendamento de serviços pelo WhatsApp. Ele explica que todo o processo de compra e entrega do veículo já é possível ser feito 100% de forma remota, mas que é preciso manter o aspecto “humano”
“Queremos manter a entrega técnica via vídeo como um processo muito especial. Para a maioria das pessoas, o carro é o segundo maior bem que compram na vida e gostamos de tornar esse momento memorável. A entrega na concessionária era agendada, o carro era embalado e a loja tocava a música predileta do cliente. Agora, isso é feito de forma digital”, diz o VP Comercial da Hyundai.
Marcos Calliari, da Ipsos, destacou a importância dessa interação nos processos de compras digitais. Ele lembra que a migração para o e-commerce traz consigo novos entrantes nesse segmento, ou seja: pessoas que não tinham costume - ou tinham restrições - com compras online.
Mas, mesmo neste cenário, e especialmente pelo momento de restrição de convívio social, o executivo considera fundamental a interação humana dentro dessa nova fase de vendas digitais.
“Essa mudança não vai ser automática e integral, especialmente para o brasileiro, que tem necessidade de empatia e acolhimento, em que o papel humano ainda é importante. O processo de digitalização vai ter de respeitar três pilares: posicionamento da marca, novos entrantes e preocupação com saúde. E todos devem considerar uma interação humana”.
O setor de crédito também acompanha as mudanças com velocidade. Devido ao momento econômico delicado, o Santander Financiamento renegociou quase 500 mil contratos só no mês de abril. E os planos são manter as linhas de crédito para o momento pós-pandemia.
“Qual o papel que tem um banco e uma financeira no setor automotivo nesse momento? A primeira tarefa foi ajudar e achar soluções para o cliente. O segundo desafio é manter o crédito, compromisso que a gente tem com o segmento e com a tradição de uma financeira com mais de 50 anos”, explica André Novaes, ressaltando a importância de manutenção da oferta neste setor da economia.
“Na medida em que não se tem o cenário econômico exato pós-pandemia, e que para muitos poderia ser motivo de retração no crédito, para nós é fundamental manter essa roda girando”, adianta o diretor do Santander Financiamento.
O terceiro desafio veio justamente no ambiente das vendas online. O Santander diz ter criado produtos dentro de um processo digital forte. “O CarDelivery da Webmotors, por exemplo, não existe se não tiver o crédito ‘at home’. Agora, a jornada do cliente pode ser 100% digital”, ressalta Novaes.
“A gente faz a jornada do comprador até as melhores opções de ofertas e o processo de crédito é fundamental. A possibilidade de crédito faz toda a diferença para a conversão dessa jornada em vendas”, reforça Jurcevic, CEO da Webmotors.
Há ainda um trabalho em conjunto com a cadeia do varejo automotivo. O Santander Financiamento também vem ajudando concessionárias e agências de automóveis na gestão de clientes dentro dessa nova realidade digital. E a Webmotors disponibilizou as ferramentas de Educação à Distância (EaD) para manter a capacitação de vendedores e lojistas.
“Hoje o papel dos bancos vai além do crédito. Estamos tentando ajudar todo o mercado automotivo a tirar gaps rápidos dos meios digitais e levar isso para equipes de vendas de todo o país, para os dealers: como fazer a gestão de um cliente que hoje inicia sua jornada muito antes de chegar ao ponto de venda”, afirma André Novaes, do Santander Financiamento.