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Classe A Sedan apaga má reputação dos antepassados

Novo modelo da Mercedes tem mecânica eficiente e central sofisticada e espera por melhora da economia para ser plausível

por Lukas Kenji

O inédito Mercedes-Benz Classe A Sedan chegou ao Brasil no ano passado com o intuito de ser o primeiro carro da marca na vida de quem sempre sonhou em ter um modelo da empresa. Com interior refinado e sistema de entretenimento high-end, o modelo trazia indícios de que seria uma ótima compra. Mas a incessante escalada do dólar afastou a sonhadora clientela.
Explico: a versão base A200 Style chegou ao país por R$ 139.900 e agora tem etiqueta de R$ 190.900, o que representa um aumento de 36,4% no preço. Já a configuração aqui testada, chamada de Advance, saía por R$ 169.900 e atualmente custa R$ 213.900.
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Diferença no dólar

A Mercedes-Benz alega que o dólar era cotado a R$ 4,03 no fim de 2019, enquanto agora ele oscila acima dos R$ 5. Importante ressaltar que o Classe A Sedan é importado do México e mesmo modelos nacionais também já estão sofrendo reajustes, porque muitas peças são compradas em dólar.
Em condições normais, o protagonista desta avaliação seria concorrente das versões mais caras de Toyota Corolla e Honda Civic. Mas como o atual momento da economia tem influência direta da pandemia em decorrência do novo coronavírus, qualquer discussão sobre valores seria distorcida.

Vamos ao carro

Resta-nos, de qualquer forma, apresentar os detalhes técnicos e práticos do modelo. A começar pelo design: enquanto a extremidade frontal é praticamente idêntica ao do Classe A Hatch, a parte traseira tem aspecto elegante, mas comedido. Oferece como destaque lanternas de LED e leve caída no teto.
Se por fora o sedã pode não despertar paixões, o ambiente interno pode causar amores à primeira vista. Há riqueza de materiais em couro, preto brilhante e alumínio escovado. Todas as peças são de ótima qualidade ao toque e conferem o requinte que todo Mercedes-Benz precisa oferecer.
O ambiente fica ainda mais agradável por conta da experiência tecnológica proporcionada pelas telas digitais que se fundem em uma peça só. O painel de instrumentos é configurável, enquanto a central multimídia é sensível ao toque e responde a comandos de voz.
Mas embora seja moderno, o sistema não é conectado à internet de tal forma que você consiga falar frases exatas para que o carro responda, por exemplo: "abrir a persiana do teto". Caso você pronuncie algo um pouco diferente, a central pode não compreender e responder algo aleatório do tipo "eu não conheço a sua tia".

Conexão por USB-C

Outro probleminha em relação à conectividade está nas portas USB. Existem duas na frente e outras duas para quem viaja atrás. Porém, o conector é do modelo USB-C, padrão ainda pouco utilizado no Brasil, embora crescente em todo o mundo. Ou seja, quase todo mundo vai precisar de adaptadores.
Se o apontamento acima é fugaz, o mesmo não pode ser considerado em relação à ausência de itens básicos para um carro de luxo, como ar-condicionado de duas zonas, ajustes elétricos para o banco do passageiro, além abertura das portas por presença. Em contrapartida, o sedã oferece sistema de frenagem de emergência, sete airbags, teto panorâmico e cinco modos de condução.
Embora seja o menor sedã da Mercedes, o Classe A ainda é bastante confortável para as pernas. Ele tem praticamente as mesmas medidas do BMW Série 2 Gran Coupé. São 4,55 metros de comprimento, sendo que o entre-eixos é de 2,72 m (maior que o de um Corolla, por exemplo). Por outro lado, o túnel central tem tamanho considerável e falta saída de ar-condicionado dedicada aos bancos traseiros.
Ainda falando sobre medidas internas, o porta-malas tem porte semelhante ao da concorrência, com volume de 430 litros.

E o motor?

Mas se o A200 Sedan apresenta ressalvas em vários quesitos, o mesmo não pode ser dito em relação ao motor. E olha que ele causa polêmica por ser feito em parceria com a Renault.
Paralelo ao debate sobre a origem dele, fato é que o propulsor 1.3 turbo é extremamente competente. Uma doce surpresa diante do insosso 1.6 que equipava a geração anterior do Classe A (que só existia na configuração hatch e na cupê, o conhecido CLA) e que ainda vive no Classe C.
O novo motor rende 163 cv de potência a 5.500 rpm e 25,4 kgf.m de torque entre 1.620 rpm e 4.000 giros. São números expressivos para um bloco tão compacto. Isso se reflete na aceleração de 0 a 100 km/h, que é cumprida em 8,1 segundos.
Na prática, o comportamento do Classe A está longe de ser explosivo, mas a performance é exemplar. Não traz nenhuma dor de cabeça. Pelo contrário: o consumo de combustível é daquelas que dão até gosto. Isso, graças a um sistema que desliga dois dos quatro cilindros em velocidades de cruzeiro.
De acordo com o Inmetro, o consumo médio na cidade é de 11,3 km/l e salta para 14,1 km/l, na estrada, o que significa nota "A" na categoria.

Câmbio em sintonia

Quem também merece elogios é a caixa de transmissão de dupla embreagem e sete velocidades, que tem desempenho impecável. É extremamente ligeira na leitura do escalonamento. Ou seja, compreende qual tocada o motorista quer empregar e executa a escolha de marcha com rapidez e exatidão. Para quem quiser um pouco de diversão, vale usar as aletas atrás do volante.
O que causa curiosidade, ainda falando sobre dinâmica, é o desempenho da suspensão, que não é das mais modernas. Na parte traseira, a Mercedes utilizou eixo de torção em vez de multilink. E, acredite, isso parece mero detalhe, uma vez que o acerto é firme, mas sem esquecer do conforto. Fazer curvas é uma delícia até porque a posição de guiar é mais baixa, algo tradicional dos Mercedes.
A experiência a bordo do novo A200 Sedan nos leva, portanto, a esquecer a má reputação que o Classe A deixou quando era aquele monovolume - que, inclusive, chegou a ser produzido no Brasil.
Salvo a ausência de alguns equipamentos importantes, o modelo oferece dinamismo e tecnologia dignos para quem não tem bala na agulha para comprar os modelos mais caros da marca, mas que merece o requinte e precisão de todo carro com a marca da estrela.
Agora, espera-se que o modelo volte a ser vendido em uma faixa de preços mais acessível assim que a economia brasileira volte a ter dias mais amenos.

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