São muitos os carros com boa aceitação no País, mas nenhum deles chega sequer ao calcanhar do Onix em termos de mercado. Ele teve quase 100 mil emplacamentos a mais do que o segundo veículo mais vendido. Mais do que isso, se somarmos as vendas de Hyundai HB20 (101.385) com as do Ford Ka (99.029), ainda sim vemos o Chevrolet na frente, com 200.886 unidades comercializadas no acumulado de janeiro à primeira quinzena de 2018, segundo dados da associação das concessionárias (Fenabrave).
O curioso é que a especialidade do hatch, aqui avaliado na versão LT, é não ter nada de especial. Passa longe dele o carisma e simpatia do Fusca ou a tradição e solidez do Gol, únicos modelos a registrarem mais de 20 anos de liderança de mercado.
É verdade que os ícones da Volkswagen ganharam respeito e viraram peças dignas de cobiça após muito tempo de hegemonia. Embora viva o apogeu do quarto ano seguido de reinado absoluto, o Onix está longe de ser um sonho de consumo.
Pelo contrário. É comum ouvir em roda de amigos críticas em relação à segurança ou desempenho. Aliás, o compacto chegou a zerar nos testes de impacto do Latin Ncap. O fato fez até com que uma organização em prol dos direitos do consumidor pedisse a retirada do modelo das lojas. Após a polêmica, a GM reforçou a estrutura do carro que ganhou três estrelas para a proteção de adultos em uma nova bateria de avaliação.
No tocante ao motor, o burburinho gira em torno de o modelo ser o único da categoria a não abandonar o bloco de quatro cilindros. A concorrência adotou propulsores de três canecos, que já mostraram-se mais eficientes tanto em termos de desempenho, quanto de economia de combustível.
Arcaico. Será?
Não há indícios de que a Chevrolet cederá a esta mudança em uma nova geração do carro, prevista para 2019. Mas o fato é que, apesar de ser veterano e apresentar números comedidos, o motor SPE/4 1.0 de 8 válvulas não tem rendimento frustrante.A potência de 78/80 cv a 6.400 rpm com gasolina e etanol, respectivamente, é capaz de proporcionar percursos sem dor de cabeça pela cidade. E olha que o ápice do torque de 9,5/9,8 kgf.m também não é chamativo, ainda mais por atingir a plenitude em elásticos 5.200 giros.
Na real, que ajuda muito a proporcionar um rodar honesto é o câmbio manual de seis velocidades. Com engates curtos e precisos, ele consegue gerenciar o extrair as qualidades do motor sem que ele fique berrando em rotações altas.
Na estrada as coisas mudam um pouco de figura, e o compacto tarda a embalar. Mas isso não é exclusividade do Onix, uma vez que qualquer 1.0 aspirado tem lá suas dificuldades. O índice de consumo de combustível do Inmetro corrobora com a sensação de que o trem-de-força do Onix não está ultrapassado. Com nota “A” no comparativo da categoria, o compacto faz 8,8/12,9 km/l no perímetro urbano e 10,5/15,3 km/l nas rodovias, seguindo a ordem gasolina e etanol.
A viagem também é sossegada em termos de espaço, embora o carro não apresente números chamativos. O comprimento não chega a quatro metros, tendo 3,93 m. Isso é o suficiente para oferecer um entre-eixos razoável (2,53 m) sem comprometer o porta-malas de 280 litros. Parece pouco, mas ele é o bastante para carregar uma mala grande e duas médias.
O túnel central é semiplano, o que traz alívio ao passageiro central do banco traseiro. Haveria mais conforto caso o porta-copos posicionado atrás do freio de estacionamento não invadisse a parte de trás do carro. Mas o que pode ser incômodo é a altura de 1,47 m, que fica no limite do aceitável para quem tem estatura na casa de 1,75 m.
Por outro lado, agrega conforto e requinte ao modelo os bancos que tem revestimento em tecido, mas contam com algumas partes baseadas em um material que imita couro. São de bom gosto ainda algumas peças cinzas e cromadas que ajudam a proporcionar diversidade ao acabamento interno.
Só que a construção do console e das portas abusam do plástico rígido. Até mesmo o único tecido presente nas portas tem superfície áspera.
Sem MyLink
Mas isso é apenas detalhe, mesmo considerando que a versão custa R$ 48.390. Problema maior são as ausências de retrovisores elétricos, regulagem da direção e faróis de neblina. A central multimídia MyLink é opcional em um pacote que sai por R$ 2.000.O Chevrolet Onix LT sai de fábrica com ar-condicionado, direção elétrica, volante multifuncional, rádio, travas e vidros dianteiros elétricos, faróis halógenos, rodas de aço de 14 polegadas e computador de bordo com monitoramento da pressão dos pneus.
Em relação à segurança, há sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça para todos os passageiros traseiros, alarme, e freios ABS com EBD (antitravamento com distribuição da força de frenagem).
Também pode ser considerado um item de segurança o sistema OnStar, que, além de oferecer serviços de concierge, traz ainda assistência 24 horas, rastreamento e botão de emergência que coloca o usuário em contato com uma central pública em caso de acidente (SAMU ou Corpo de Bombeiros, por exemplo). O serviço, no entanto, é opcional e pode ser contratado via assinatura mensal.
Ele tende a interferir no preço do seguro. Inclusive, o preço mais em conta de apólice encontrado no AutoCompara é de R$ 1.438,67.
Os preços de revisão também condizem com a realidade da categoria. Somados, os valores das seis primeiras revisões chegam a R$ 3.244.
Aliás, o pós-venda ajuda a compreender porque o Onix reina no mercado. Embora não seja melhor em nada, é bom em tudo. Apesar de não empolgar, o desempenho é suficiente para rodar tranquilamente na cidade, enquanto o espaço é satisfatório para famílias pequenas. A solidez de mercado, o tamanho da rede de concessionárias Chevrolet e ainda o baixo índice de desvalorização são outros predicados que justificam o trono de campeão da indústria brasileira.
Comentários