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Transfusão de sangue uruguaio para brasileiro fez

Hatch melhorou com produção em São Paulo, mas ainda segue com concepção ultrapassada

por Lukas Kenji

A transfusão de sangue do Chery Celer foi feita aos trancos e barrancos devido aos problemas na fábrica de Jacareí (SP), mas no fim das contas, foi bem sucedida. A tropicalização de montagem e componentes agregou qualidade ao acabamento do veículo, o que diminuiu a margem de erros como rebarbas, plásticos mal colocados ou peças separadas.

A operação desenvolvida no interior de São Paulo, no entanto, não fez milagres. A qualidade dos materiais continua mediana, o que fica claro em simples atitudes como regular a altura do volante. O acionamento é duro e a direção desce com tudo, podendo até machucar o condutor.

Os bancos têm material de preenchimento fino e desconfortável, enquanto o forro do porta-malas é duro e mal ajustado. Mas os problemas de construção que realmente afetam a rotina são o câmbio de manopla bamba mesmo quando engatada e a embreagem curta – o coitado do carro ‘morre’ várias vezes até criar costume com o pedal.

No mais, a troca do sangue uruguaio (o Celer era produzido era produzido no país vizinho até maio) para o brasileiro surtiu poucas mudanças, uma vez que o motor 1.5 já era bicombustível.

Aliás, o propulsor de 109 cv, abastecido de gasolina, e 113 cv bebendo etanol continua com a desenvoltura que não deixa o motorista na mão, mas que incomoda pelo alto nível de ruídos ao trabalhar sempre em giro alto – o pico de potência é alcançado aos 6.000 rpm.

O torque também é entregue com o conta-giros lá em cima (4.000 rpm), mas oferece números decentes: 14,3 e 15,5 kgf.m na ordem gasolina e etanol. Ajustado ao câmbio manual de cinco velocidades, vai bem em retomadas, embora peque nas ultrapassagens em alta, uma vez que a transmissão de escalonagem longa trabalha bem somente nas primeiras marchas. Na quarta e quinta velocidades, o sistema demora a embalar.

Mas o maior problema do trem de força está na eficiência energética. O hatch recebeu avaliação ‘C’ do Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro quando comparado a todos os veículos avaliados pelo instituto. Quando a comparação foi feita levando em consideração apenas a concorrência, o desempenho foi ainda menos animador. Nota ‘E’, a pior possível, pelos 9,2 e 6,3 km/l desenvolvidos em ciclo urbano. Em ciclo misto, desempenho de 12,1 e 8,3 km/l com gasolina e etanol, respectivamente. A mesma performance vale para a variante sedã.

O desempenho medíocredo motor beberrão foi comprovado na prática. O tanque de 50 litros cheio abastecido na Zona Leste de São Paulo chegou na metade em Campos do Jordão, no Vale do Paraíba. Vale ressaltar que o trajeto feito predominantemente pela Rodovia Governador Carvalho Pinto não continha trechos íngremes nem tráfego intenso.

Ponto positvo para a suspensão 10 milímetros mais alta em relação ao modelo uruguaio. Apesar da tecnologia padrão (McPherson com mola helicoidal na dianteira e semi-independente na traseira), mostrou-se confortável e relativamente segura em curvas  de alta.

CUSTO-BENEFÍCIO

O ponto alto do modelo de 4,28 metros de comprimento, como (ainda) não poderia deixar de ser ao falar de um veículo de origem chinesa, está no custo-benefício. Se de um lado temos um veículo com baixo nível de qualidade de equipamentos, rede de reposição de peças pequena e motor beberrão, do outro vemos um hatch que parte de R$ 34.990 na versão base e chega aos R$ 36.990 na configuração ACT, aqui avaliada.

Os R$ 2.000 a mais são devidos a rodas de liga leve de 15 polegadas, faróis de neblina, alarme antifurto, rádio com CD player player e seis alto-falantes.

Ambas as versões oferecem direção hidráulica, ar-condicionado, vidros, travas, retrovisores e ajuste do faróis por acionamento elétrico e sensor de estacionamento traseiro.

Inevitavelmente, o Chery Celer continua sendo uma opção para quem tem pouca grana e faz questão de comprar um carro zero-quilômetro. O volumoso e disputado segmento de hatches compactos oferece modelos mais modernos tanto em relação a trem de força, quanto em relação a materiais de acabamento e conectividade. 


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