A chegada da segunda geração do 208 relevou uma estratégia bastante pragmática da Peugeot para o seu hatch. A marca francesa está de olho no segmento dos compactos premium, aqueles mais bem acabados, um pouco maiores e completinhos. No lançamento, a montadora deixou claro que mira especificamente em três exemplares desta categoria: VW Polo, Toyota Yaris e Honda Fit.
Ao abdicar de um motor turbo - na Argentina, onde este novo 208 é fabricado, existe esta opção com 1,2 litro -, vamos escalar o Peugeot para enfrentar os modelos das marcas japonesas em nosso comparativo virtual (na próxima quinta, 10/9, você vai ver como ele se sai perante Polo e Fiat Argo).
No caso, vamos de 208 Allure, que tem preço de R$ 89.490 e é a versão abaixo da topo de linha Griffe. Ele vai desafiar o Fit EXL, o mais caro dentro da gama do monovolume da Honda (R$ 88.200), e o Yaris XLS Connect, de R$ 89.990 - também o "sub-top" da família. Todos usam conjuntos aspirados e automáticos, com potências próximas.
Neste desafio, analisaremos desempenho (que envolve também consumo e dinâmica), conforto (espaço, equipamentos e acerto da suspensão) e manutenção (pós-venda e reputação da marca). Veja quem se sai melhor no comparativo 208 x Fit x Yaris.
O conhecido 1.6 16V continua a dar conta do recado no caso do 208. O motor rende melhor a partir dos médios giros, mas o novo acerto do - também manjado - câmbio automático de seis velocidades proporciona mudanças mais ágeis, especialmente nas arrancadas. No modo Sport, a performance fica ainda mais divertida, com aumento das rotações e marchas esticadas.
Os delays entre as 2.000 rpm e 3.000 rpm nas retomadas de velocidade ainda estão lá, só que mais suaves e menos demorados. Tem também o modo Eco, que deixa o carro (muito) comportado. O consumo, contudo, piorou em relação ao 208 antigo e o Peugeot acaba como o mais beberrão entre os três - confira a eficiência de cada um no fim do tópico.
O grande ganho do novo 208 está no comportamento dinâmico. Se a geração anterior já tinha uma pegada firme, esse ficou ainda melhor acertado. Faz curvas com destreza, a carroceria tem ótima rigidez e a direção elétrica tem respostas diretas. Sem contar a boa posição de dirigir, o volante diminuto e o conceito de i-Cockpit, que melhorou ainda mais a ergonomia.
O Fit é aquele pacato cidadão, que não decepciona, mas também não empolga. O também cansado motor 1.5 de 116 cv é competente para a cidade e suficiente para a estrada. O câmbio CVT só reforça a proposta citadina do monovolume compacto da Honda. O que se reflete em um consumo melhor.
A dirigibilidade do Fit acompanha a proposta do carro. O modelo é muito bem pensado em termos de posição de dirigir, apesar de o volante ter uma pegada ruim e pedir pequenas correções em altas velocidades permitidas na estrada. Nas curvas, o Honda se mostra no chão.
O Yaris é o menos potente dos três - o 1.5 rende 110/105 cv -, mas é melhor resolvido que o Fit, principalmente devido ao acerto da caixa continuamente variável. A transmissão com sete marchas simuladas pontua o desempenho e escalona as arrancadas do hatch. A sensação é de ter um carro menos anestesiado e mais prontamente disposto em retomadas e subidas.
Na dinâmica, o modelo da Toyota merecia uma rigidez mais aprimorada, especialmente em curvas, e tem um trato mais para o conforto do que propriamente para a esportividade. Porém oferece boa comunicação entre volante e rodas.
O conceito do i-Cockpit é muito bacana e o volante pequeno com as partes superiores e inferiores retas é excelente. Mas mesmo para um cara com 1,73 m de altura, é difícil encontrar uma posição adequada para ter uma visão completa do sensacional quadro de instrumentos 3D mais à frente.
Além disso, no espaço o 208 perde feio para os demais. No banco traseiro, pessoas com estaturas medianas ficam com joelhos rentes e mesmo uma criança em meio a dois adultos complica a viagem. O porta-malas é o menor deste comparativo virtual: 265 litros. Em compensação, o acabamento, apesar de muito plástico, empresta muito mais sofisticação que a dupla japa.
O novo 208 traz desde a versão de entrada quatro airbags, assistente à partida em rampas, além dos agora obrigatórios controles de estabilidade e tração, e dos triviais ar, direção elétrica e trio. O multimídia tem tela de 7", conexão com Apple CarPlay e Android Auto e duas entradas USB, e por fora há luzes diurnas de LEDS e rodas de liga leve de 16 polegadas.
Esta versão Allure do 208 agrega airbags de cortina e câmera de ré. Também vem com ar automático volante multifuncional revestido de couro, chave presencial, bancos com acabamento Alcantara e descansa-braço para o motorista. Entre os destaques, o quadro de instrumentos i-Cockpit em 3D e carregador de celular por indução, itens que os rivais não têm.
O Fit segue o conceito de monovolume e é um dos carros com melhor aproveitamento de espaço. Seu formato meio estufado contribui para bom ambiente para cinco ocupantes. Apesar do entre-eixos de 2,53 m, atrás, dois adultos e uma criança viajam numa boa. Tem o porta-malas mais generoso, com capacidade para 363 litros.
A suspensão tem sido aprimorada ao longo das gerações do Honda, mas a filtragem não é das melhores - na frente, principalmente. O isolamento acústico é eficiente e o acabamento, simples, todavia correto.
Em equipamentos, o Fit EXL é o mais completo da linha e oferece seis airbags, ESP, controle de subida, câmera de ré e luzes diurnas assim como o rival mais novo. Também leva basicamente os mesmos itens de conforto do 208 Allure, com destaque apenas para os retrovisores rebatíveis eletricamente. O multimídia também tem display de 7" com conectividade para smartphones, mas traz GPS integrado.
No Toyota, o espaço a bordo também é um dos trunfos, com destaque para o banco raseiro e para a boa largura do modelo (1,73 m). Na frente, motorista e passageiro também desfrutam de certas folgas para joelhos e pernas, enquanto o porta-malas leva 310 litros.
O acabamento interno é bem mais caprichado do que no Etios, modelo com quem compartilha plataforma. Há muito plástico, mas as texturas são agradáveis e o desenho interno passa mais qualidade aos olhos. A suspensão trata bem a coluna dos ocupantes na maior parte do tempo.
A XLS Consect é uma versão bem recheada do Yaris. Na segurança leva os mesmos seis airbags, controles de estabilidade, tração e de subida, e câmera de ré. Esta configuração tem teto-solar, retrovisor eletrocrômico, chave presencial e espelhos externos rebatíveis eletricamente. O modelo usa a central Toyota Play, com tela de 7" e conexão com Android e IOS.
Aqui, as japonesas gozam de reputação acima da média. É aquela premissa de que carro da Honda e Toyota não quebram... Mas em termos de revisões, os dois rivais orientais apresentam orçamentos bem diferentes. O Fit cobra um total de R$ 5.113,19 nas primeiras visitas obrigatórias com preço fixo até os 60.000 km, enquanto o Yaris tem o custo mais barato do trio: R$ 3.252,19.
O novo 208 fica em um meio-termo interessante e cobra R$ 3.912 nas seis primeiras manutenções - ficou mais barato que a antiga geração, que somava R$ 4.143. Quanto à desvalorização, a fama de carro que perde muito na revenda assombra a Peugeot há muito tempo, mas a marca lançou um plano de recompra garantida com o hatch, que paga 100% da Tabela Fipe.
O Fit, nesse quesito, é o carro que menos deprecia - e volta e meia ganha o prêmio Maior Valor de Revenda da agência Autoinforme. Já o Yaris, por ser Toyota, se mostra um carro com baixa desvalorização e fácil de vender.
Para quem é vidrado em tecnologia, design e novos equipamentos, o 208 está bem à frente dos concorrentes orientais. Tem carregador por indução e quadro de instrumentos eletrônico, além de uma pegada bem mais empolgante ao volante, tanto pelo i-Cockpit como pela plataforma modular mais moderna do segmento na atualidade.
Porém, quem prefere a tradição, precisa de espaço e aposta na compra racional, pode ir nos japoneses. Se beleza e modernidade de equipamentos estão longe de ser o forte da dupla Fit e Yaris, lembre-se que ambos têm baixa desvalorização e mecânica sempre elogiada, além de oferecerem mais espaço interno que o 208.
Neste raciocínio o Toyota leva certa vantagem porque tem revisões mais baratas e esse Fit vai desvalorizar um pouco mais, já que uma nova geração estreou na Ásia, que chegará por aqui em 2021. O Yaris também já mudou lá fora, mas vai demorar para adotar tais modificações no Brasil - além do que, nosso hatch é baseado na plataforma mais simples do Etios, enquanto o europeu usa uma arquitetura mais moderna.