Novo Focus Fastback, vale a pena investir neste sedã médio?

Com nome renovado, muita tecnologia embarcada e atrativos para o bolso, sedã quer agitar o segmento
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Karina Simões
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Entusiasta. Segundo o dicionário, o adjetivo caracteriza o indivíduo que sente ou demonstra entusiasmo, admirador ou fã ardoroso. Migrando para o setor automotivo, afunilando ainda mais para o segmento de sedãs médios, este público – que representa 30% dos consumidores que estão de olho em modelos três-volumes, revelou um estudo da Ford – é quem a marca quer fisgar com o novo Focus Fastback. Não sabe qual carro é este? Sabe sim. Trata-se do Focus Sedan, que chega ao Brasil importado da Argentina, com mudanças sutis no formato da carroceria, linguagem visual global da marca, muita tecnologia, “mimos” atraentes que refletem no bolso e, para arrematar, um novo nome.

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A questão é: será que agora ele emplaca? Para quem não sabe, a versão sedã do Focus vive a antítese da hatch. Enquanto a descolada carroceria mais curta é lider no segmento, a sedã vende menos da metade e representa apenas 5,4 % das vendas da categoria.

As versões mais vendidas do hatch, que são as top de linha Titanium e Titanium Plus, partilham ainda da mesma motorização oferecida para o sedã, um motor 2.0 Duratec Flex de 178 cv de potência (etanol) e 22,5 kgf.m de torque acoplado a um câmbio automatizado Powershift de dupla embreagem.

O novo Focus Fastback é oferecido apenas com esta configuração mecânica por aqui. Na Argentina há uma opção manual, mas no Brasil, a Ford acredita que a transmissão atrairia um baixo volume de vendas e, como a calibração é outra, não compensaria o investimento. Ok. Brasileiros entusiastas preferem câmbio automatizado, então? Não, mas 95% das pessoas que optam por colocar um sedã médio na garagem preferem essa transmissão.

Enfim, deixemos a discussão para a área de marketing, encarregada de mostrar para os “jovens” de 35 anos - cujas prioridades muitas vezes incluem filhos - que não é preciso se aposentar para adentrar no segmento de sedãs médios. Para isso, o departamento recebeu da Ford uma bolada de dinheiro. A campanha milionária, segundo a montadora, que irá ajudar a rejuvenecer o Focus sedã, inclui de propaganda com o ator de Hollywood Gerard Butler até testes de clientes com pilotos de corrida. Sem contar toda uma nova comunicação de mídia em TV, internet e impressos que mostre mais emoção. O Focus Fastback não quer ser um carro conservador.

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Para atrair mais clientes foram usadas as seguintes táticas:

1- Entregar um veículo moderno, com design atual, mais esportivo e alinhado com os modelos vendidos nos Estados Unidos e Europa, mesmo que isso queira dizer que mais um carro da marca foi para a fila do “mais do mesmo”. Basta dar uma olhada no Ka, New Fiesta e Fusion para perceber que eles têm a mesma “cara”.

2 - Refinar a parte mecânica, como a calibragem da direção elétrica, mais precisa, e a suspensão independente, mais acertada.

3 - anter a excelente dirigibilidade.

4 - Reduzir o consumo de combustível em 8,2%, de acordo com a marca.

5 - Adicionar equipamentos de segurança, como o inédito controle de estabilidade e tração preventivo (Advance Track) e controle de torque em curvas – que distribui melhor a força do motor nas rodas dianteiras –, desde a versão de entrada SE que, diga-se de passagem, custa o mesmo que a mais simples e agora extinta S, da geração atual.

6 - Não economizar em itens de tecnologia, tais como um assistente de frenagem autônomo, que freia seu carro por você ao identificar uma colisão, um assistente de estacionamento que pare também em vagas perpenticulares, um par de faróis bixenôn adaptativos, que mudam a intensidade do facho de luz e a direção conforme o trajeto, entre outros facilitadores de última geração. Depois, oferecer tudo isso em um carro que custe menos de R$ 100 mil - uma sutil alfinetada no rival Corolla Altis 2016, que custa R$ 100.900 e não oferece sequer controle de tração.

7 - Entregar, por meio de um marketing pesado, o status que o cliente busca. Quem não quer ter um carro descolado?

8 - Dar uma ajuda financeira ao futuro dono carro pagando os primeiros três anos de revisões, ou até os 30 mil km.

9 - Limpar a barra com os desavisados que compraram o Focus Sedan 2014, cuja nota fiscal tenha sido emitida até o mês passado, e dar a eles 15% de desconto na pré-venda caso eles queiram trocá-lo por um novo. Na ponta do lápis, isto representa R$ 11.685 a menos na versão SE e R$ 14.535 a menos na versão top de linha Titanium Plus. Fácil crescer o olho e não ficar tão chateado assim com a Ford, vai.

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Será que é suficiente?

São duas as versões do Focus Fastback, SE (R$ 77.900) e Titanium (R$ 87.900), mais duas variações acrescidas de um pacote de equipamentos generoso, SE Plus (R$ 79.900) e a top de linha Titanium Plus (R$ 96.900). O que possui cada versão, você fica sabendo aqui.

O que pouca gente sabe é que, como um alento aos desatentos, o Focus Fastback tem um sistema que desliga o motor automaticamente ao detectar que o carro está parado em marcha-lenta por 30 minutos sem intervenção do motorista. Segundo a Ford, um hábito decorrente causado pela partida sem chave, já que alguns motoristas estacionam o carro e o deixam ligado, sem perceber.

Indo literalmente mais a fundo, há um novo sensor que monitora a temperatuda do cabeçote (estou falando do metal mesmo). Em uma situação de superaquecimento, antes que seu motor vá para o espaço, os cilindros são desligados automáticamente.

Para cumprir o papel politicamente correto, outra curiosidade é que 11 kg, dos 1.414 do Focus Fastback, são provenientes de material reciclado e 85% do carro é totalmente reciclável, conforme divulga a montadora.

No quesito segurança, além de possuir até seis airbags na versão mais cara, o Focus vem com um sistema batizado de assistente de emergência - este de série -  que, em caso de corte do motor com acionamento dos airbags, ele envia um aviso direto ao serviço de atendimento médico de urgência 192, vulgo SAMU.

Veja o que mudou:

Focus Fastback na prática

Experimentamos o Focus na região de Gramado, no Rio Grande do Sul, e constatamos que seu comportamento é praticamente idêntico ao da versão hatch, como era de se esperar. O posicionamento é correto ao volante, mas um aviso aos entusiastas que gostam de colar o banco no assoalho, a versão com ajustes elétricos para o banco do motorista baixa pouco e você nunca vai ficar afundado na direção. O volante, todavia, conta com boas regulagens de altura e profundidade.

Por dentro o acabamento é sóbrio e bonito, com grande área de plástico emborrachado no painel. Conhecido como soft touch, o material melhora demais o toque e a aparênciada do habitáculo. Espaço interno não sobra e se a viagem for longa, torça para que o motorista não seja alto demais. Como os bancos da frente são volumosos, até o espaço para os pés ficam limitados e quem vai no meio ainda tem que disputar espaço com o túnel no assoalho. O porta-malas também perde em espaço para os concorrentes, com 421 litros contra 470 do Corolla, mais vendido do segmento atualmente. Já o isolamento acustico ganhou reforços e a cabine está bem silenciosa.

Em suma o Focus anda bem, não decepciona nas retomadas e é um carro bem gostoso de dirigir, muito firme no chão. A marca diz que 88% do torque máximo é disponibilizado já aos 2.750 rpm e confesso que esperava uma “empurradinha” maior do motor. No entanto, para quem busca mais esportividade, borboletas para trocas de marcha atrás do volante estão inclusas a partir da versão SE Plus.

Agosa, só na configuração mais cara você conta com o freio autônomo, que inclusive reduz em 15% o preço do seguro (quando contratado pela empresa de seguros da própria Ford em parceria com a Mapfre). Obviamentne não testamos o sistema no trânsito “anda e pára” da cidade turística da Serra Gaúcha, efervescente ao juntar auge do inverno com última semana de férias escolares. Deu vontade, claro, mas a Ford havia designado um carro só para a demonstração. Para entendermos como funciona, sensores identificam superfícies refletivas – como as lanternas e a própria placa do carro da frente – e aciona os freios automaticamente ao identificar uma possível colisão. Se o carro estiver a 20 km/h, a batida é evitada, se ele estiver até 50 km/h, a batida é leve. Atenção: acima de 50 km/h o sistema não funciona, também não invente de mostrar para os amigos como seu carro é tecnológico e testar no muro, parede não reflete e você estragará a bela dianteira do carro.

Por fim, constatamos que o Focus Fastback possui incontáveis atributos, mas fica devendo em características que agradem entusiastas de verdade. Lógico, a ideia da Ford não era mesmo fazer a releitura do Maverick, mas sim encontrar o equilíbrio em um carro racional, com bom apelo visual, que pode ganhar mais mercado se for comunicado de uma maneira mais empolgante, mesmo em tempos difíceis para a indústria automotiva no Brasil. A aposta é alta e o resultado veremos daqui alguns meses.

Como anda o segmento?

Eis uma das categorias mais conservadoras de todas. Imagine que o comprador de sedãs médios prioriza a compra racional de um veículo que não precisa empolgar, mas sobretudo ser confiável e oferecer um serviço de pós venda de qualidade. Sim, estou falando das japonesas Toyota e Honda que dominam o mercado com seus representantes Corolla e Civic, respectivamente, e sabem fazer esta lição de casa muito bem.

Na mira do Focus Fastback estão os dois orientais, mas também o Nissan Sentra, o Chevrolet Cruze e o Volkswagem Jetta. Como coadjuvantes estão Citroën C4 Lounge e Renault Fluence, que também oferecem pacotes interessantes, mas não chegam a representar uma fatia muito significante em vendas como os demais.

Confira na tabela a seguir quais os principais concorrentes do Fastback, tanto nas versão de entrada quanto na mais completa, e encontre o modelo que te atende antes de assinar o cheque:

Na imagem, identificamos que a esmagadora maioria das opções conta com motor 2.0 aspirado. São exceções o Cruze, que vem com bloco de 1.8 litro, e o Jetta Highline que ostenta o vigoroso 2.0 turbo da Volks.

O Focus Fastback chega às lojas no mês de agosto e a Ford tem pretenções pouco arrojadas. Ela quer figurar entre os cinco mais emplacados do segmento (posição que já ocupa) e manter a média de vendas atual - até junho deste ano, pouco mais de 3.500 mil unidades foram vendidas. Colocando em prática as novas orientações, Oswaldo Ramos, gerente de marketing da montadora prontamente acrescentou, “o que não queremos é ver entusiastas comprando carro sem graça”.