A inauguração oficial da fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia, nesta semana, trouxe uma promessa que surpreendeu até os mais otimistas: produzir 600 mil carros por ano. Vale lembrar que a fábrica começaria com capacidade de 150 mil unidades/ano, até atingir progressivamente a meta de 300 mil. Dobrar esse número não parece loucura?
A nova previsão foi anunciada pelo CEO global e fundador da empresa, Wang Chuanfu, ao lado do presidente Lula. Se concretizada, essa capacidade colocaria (ou colocará?) a BYD no mesmo patamar produtivo das maiores montadoras do Brasil - como Fiat, Volkswagen e GM - e transformaria a planta baiana em uma das maiores da América Latina.
Aproveite também:
Para comparação, a Stellantis (dona da Fiat) produziu cerca de 700 mil veículos no Brasil em 2024, só que somando suas três fábricas no país - Betim (MG), Goiana (PE) e Porto Real (RJ).
E o Grupo Stellantis, como o próprio nome diz, é um oligopólio de empresas que reúne Fiat, Jeep, Ram, Peugeot e Citroën (considerando apenas as marcas que de fato produzem carros por aqui). A Leapmotor, apresentada recentemente, é outra que pode se juntar a essa turma.
Ou seja, a BYD, com uma única unidade, quer chegar perto disso.
A meta é ambiciosa, mas, acredite, não impossível. A fábrica fica no antigo complexo da Ford, que foi desativado em 2021, e recebeu investimentos de R$ 5,5 bilhões para se tornar o primeiro centro de produção completo da BYD fora da Ásia.
Dessa forma, já nasce com vocação exportadora: além de abastecer o mercado interno, deverá atender países da América Latina e até os Estados Unidos, aproveitando acordos comerciais e a crescente demanda por veículos eletrificados.
Hoje, a BYD lidera o mercado de carros eletrificados no Brasil, com mais de 40% de participação. Além disso, a chegada do Song Pro flex - primeiro híbrido plug-in do mundo que pode ser abastecido com etanol - reforça a estratégia da marca de adaptar seus produtos às especificidades locais.
Só que, para atingir 600 mil carros/ano, será preciso mais do que inovação. Também fica claro que a empresa vai precisar escalar sua rede de fornecedores, consolidar sua logística e ampliar de forma significativa sua rede de concessionárias.
Do ponto de vista de mercado, a BYD pode se tornar um novo eixo de poder automotivo nas Américas. A marca já é líder global em vendas de veículos elétricos e, com a planta baiana, ganha musculatura para competir com ainda mais força com Tesla, GM e Volkswagen em escala continental.
No entanto, ainda há vários desafios.
Com infraestrutura limitada e poucos incentivos, o mercado brasileiro - importante destacar - ainda engatinha na eletrificação. Principalmente quando comparado a outros mercados, como Europa, Estados Unidos e China.
Dessa forma, a dependência de exportações para a fábrica baiana também pode tornar a operação vulnerável a flutuações cambiais e barreiras comerciais. Além disso, atingir 600 mil unidades exige uma estrutura gigantesca, que ainda não está garantida.
Mesmo assim, a aposta da BYD é clara: transformar Camaçari em um hub de inovação e escala. Se bem-sucedida, a fábrica poderia reposicionar o Brasil como protagonista na nova era da mobilidade - não só como consumidor, mas como fornecedor global de tecnologia automotiva do futuro.



Email enviado com sucesso!