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Por que a Fiat foi líder de mercado em 2021?

Consultores analisam as movimentações e efeitos da pandemia que fizeram a marca ser a primeira em vendas no Brasil

por Fernando Miragaya

O ano de 2021 foi marcado por muitas reviravoltas na indústria automobilística. Teve crise dos semicondutores, que paralisou linhas de montagem importantes, teve fabricante tradicional que se tornou importador e uma escalada dos preços dos 0 km e seminovos. Em meio a essa confusão, a Fiat se tornou líder do mercado geral.
Na soma de automóveis de passeio e comerciais leves, a marca italiana deteve 21,8% de todos os emplacamentos registrados pela Fenabrave. De quebra, ainda celebra o veículo líder em vendas do país, a Fiat Strada. A segunda marca mais vendida em 2021 foi a Volkswagen com 15,31%, seguido da General Motors (12,26%), Hyundai (9,33%), Toyota (8,76%) e Jeep (7,53%) - marca do grupo Stellantis, como a Fiat.
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Fiat líder em 2021

A performance em vendas da Strada - em conjunto com a de sua irmã maior, a Toro (segunda picape mais emplacada no país em 2021) - ainda garantiu um market share fenomenal para a marca italiana entre os comerciais leves: 49,1%. Na prática, metade das picapes, furgões e vans vendidas no país são da líder Fiat. E a montadora só não emplacou o automóvel de passeio mais comercializado do país por menos de 2 mil unidades, a diferença que separou o líder Hyundai HB20 do Argo.

Foram muitas as razões para a Fiat retomar essa liderança. Méritos da própria marca, obviamente. Mas também erros estratégicos e problemas na concorrência. O WM1 conversou com os consultores Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive, e Milad Kalume Neto, da Jato Dynamics, para entender e debater o domínio da marca italiana.

Crise dos semicondutores

Os chips foram o fiel da balança em 2021 no setor. Com a crise na produção mundial, o Brasil ficou na rabeira desses componentes amplamente usados pela indústria automotiva e de eletrônicos. E com a tecnologia embarcada dos veículos, os semicondutores são cada vez mais usados nos automóveis.
A falta da peça foi tão grande que paralisou diversas linhas de montagem no país. Hyundai, Renault, Volkswagen, Toyota e a própria líder Fiat tiveram problemas para dar continuidade à produção de alguns carros. Mas a que penou mais foi a General Motors. E logo com o carro, até então, líder absoluto do mercado: o Onix.
"A escassez de semicondutores 'favoreceu' mais os veículos que não tinham tanta tecnologia. Não que os carros da Fiat não tenham tecnologia, eles têm, e de ponta. Porém, a marca ainda tem um grande número de veículos, que inclusive vão deixar de ser ofertados em breve, que não precisam de tantos semicondutores", observa Garbossa.
Só que, para a GM, a crise bateu feio. A produção da linha de compactos (hatch e sedã) em Gravataí (RS) simplesmente parou. Foram quatro meses sem um Onix sequer fabricado, o que deixou as concessionárias da Chevrolet praticamente vazias de produtos.

"Na contramão, a GM mudou toda a linha, principalmente com o novo Onix, com muita mais tecnologia embarcada. A montadora teve de optar por paralisar a produção do Onix e focar nos veículos de maior valor agregado, como o Tracker", explica o consultor da ADK Automotive.
Paralelamente a isso, a Fiat soube equilibrar a sua produção. Fato que a Strada não usa a mesma quantidade de semicondutores que modelos do segmento de picapes médias, por exemplo. Mas mesmo seus carros de passeio tiveram as produções pouco afetadas. Resultado de extensas negociações junto à matriz e uma logística fabril.
"A Fiat não foi afetada pela questão dos semicondutores como as outras, conseguiu sair mais rapidamente. A Strada é um carro mais operacional. Nesse sentido, carrega menos chips que a média do segmento de sedãs e hatches. Mas isso não esconde o fato de que a Fiat teve um planejamento dentro da produção muito mais eficiente que as outras", compara Kalume Neto, da Jato Dynamics.

Efeito Onix

Com o Onix fora de combate por praticamente seis meses (até normalizar a produção), outras marcas obviamente se beneficiaram em termos de volumes de vendas. Falamos de um compacto que, só em 2020 - ano de retração nas vendas por conta da pandemia - emplacou mais de 135 mil unidades.
Obviamente, quem queria o modelo da Chevrolet e não encontrava nada na concessionária, partia para outra. O que beneficiou os carros concorrentes do Onix, como o Hyundai HB20, Fiat Argo e até o Volkswagen Gol, que estava meio esquecido e em dezembro foi o terceiro carro de passeio mais comercializado do país.

"A venda continua, o consumidor continua, a demanda continua. Algumas montadoras se deram melhor por programação industrial, estrutura de revendas e por ter modelos na mesma faixa de preço", ressalta Paulo Garbossa.

Efeito Ford

Ainda teve a demanda pela Ford que ficou a ver navios. Na segunda semana de 2021, a marca avisou que estava de malas prontas e deixou de produzir todo e qualquer carro no Brasil. Com isso, deixaram de ser feitas as linhas Ka e EcoSport de uma hora para a outra. Só o hatch em questão era o quinto carro mais negociado do Brasil - em 2020, foram mais de 60 mil unidades.

"Aquele filão de mercado que a Ford mordia no mercado brasileiro,  esse pedaço da pizza, foi absorvido por outros fabricantes. Por mais que os volumes do Ka estivessem concentrados em vendas diretas, os carros líderes se beneficiaram, como Argo e HB20, e outros competidores atuassem naquela faixa do mercado", explica Kalume Neto.

Custo/benefício

Fora isso, a Fiat também  sempre foi uma marca boa de venda. Além dos preços agressivos no varejo, o fabricante tem uma ampla rede de concessionárias. E ainda faz um trabalho forte nas vendas diretas, especialmente com locadoras e frotistas. Basta ver que quase 80% de tudo que a Strada vendeu foi para PJ.
Ao mesmo tempo, a marca tenta manter uma renovação constante em seu portfólio. Lançou novos motores turbo, renovou a Toro, equipou a Strada com câmbio CVT, lançou o inédito SUV compacto Pulse e até deu uma mexida no Fiorino. E promete mais coisa para 2022. Será que vem bicampeonato por aí?

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