Entenda como funcionam os grupos automotivos

Veja como nasceram e se formaram os grandes conglomerados de fabricantes de veículos de hoje em dia

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Fernando Miragaya
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Imagine a situação. Um típico cidadão classe média do meio-oeste dos Estados Unidos desperta de um coma de 40 anos. Apaixonado por automóveis, ele vai tentar se inteirar das novidades do mundo automotivo. Porém, aos poucos, acha que ainda está em um pesadelo, sem entender os grupos automotivos que existem hoje em dia.

Fiat e Peugeot juntas e donas da Chrysler? As francesas compraram a Opel? Renault e Nissan fazem carros iguais? Jaguar e Land Rover controladas por uma montadora da Índia? A Volvo sob tutela de uma empresa chinesa? E onde está Pontiac??? Pois é, será parecido com aquele personagem do Jô Soares que falava “Me tira o tubo!!!”, nos anos 1980.

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Mas, calma. Vamos explicar ao nosso caro convalescente como as coisas funcionam no mundo das quatro rodas hoje. Os grupos automotivos que se formaram e alianças feitas, além da reestruturação pela qual passaram alguns tradicionais fabricantes para sobreviver - e as parcerias fundamentais para enxugar custos.

Stellantis

Em janeiro, dois grandes conglomerados do setor juntaram as escovas de dentes e formaram o quarto maior grupo automotivo do mundo. A fusão entre FCA - Fiat Chrysler Automóveis e Grupo PSA resultou em uma empresa com mais de 15 marcas diferentes do universo automotivo.

Só de automóveis, são 13 emblemas que a Stellantis reúne atualmente: Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, Fiat, Jeep, Lancia e Ram do lado FCA; Citroën, DS, Opel, Peugeot e Vauxhall, do lado francês. Sem contar as divisões, como Fiat Professional, Mopar, Peugeot Sport e Opel Performance - a fusão, contudo, já fez sua primeira vítima, a SRT, que era o braço esportivo da Chrysler.

Para chegar à esta forma gigante, é bom entender um pouco da trajetória dos dois grupos que resultaram na Stellantis:

FCA - Fiat Chrysler Automóveis

Depois de passar pelas mãos da Daimler (dona da Mercedes-Benz) e atravessar a duras penas a crise de 2008, a Chrysler iniciou uma parceria com o Grupo Fiat no início dos anos 2010. O primeiro produto foi o Freemont, a versão da marca italiana do SUV Dodge Journey. Era só o prenúncio da FCA, um dos maiores grupos automotivos do mundo.

Na prática, a Fiat comprou o Grupo Chrysler depois de se reerguer na Europa, muito graças ao fim de um acordo com a General Motors. Assim, se formou uma empresa com 10 marcas: Fiat, Alfa Romeo, Maserati, Lancia, Abarth, Chrysler, Jeep, Ram, SRT e Dodge…

PSA Peugeot Citroën

Um dos mais tradicionais e antigos grupos automotivos, a holding francesa formada em 1976 tem dado passos mais ousados ultimamente. Em 2017, adquiriu a Opel, então divisão europeia da General Motors, por especulados 2,2 bilhões de euros. De quebra, levou a Vauxhall, a “Opel vendida no Reino Unido”.

Com o negócio, a PSA se tornou, à época, o segundo maior grupo automotivo em vendas na Europa, com as cinco marcas - também é dona da DS, que era uma divisão de luxo da Citroën e ganhou vida própria.

Tradicionalmente, a PSA era expert em fazer parcerias. Nos anos 2000, o subcompacto Toyota Yago originava Peugeot 107/1007 e Citroën C1. Já os primeiros SUVs das francesas, de 2004, Peugeot 4007 e Citroën C-Crosser, usavam a base do Mitsubishi Outlander. No Brasil, a fábrica da Iveco em Sete Lagoas (MG) fazia as vans Daily, Ducato (Fiat), Jumper (Citroën) e Boxer (Peugeot).

Renault-Nissan-Mitsubishi

Em 1999, Renault e Nissan se uniram  em uma aliança que previa compartilhamento de plataformas e economia de escala. Em 2017, a família aumentou, depois que a japonesa assumiu o controle acionário da Mitsubishi.

Porém, os planos de uma possível fusão foram descartados recentemente e a ideia do grupo é manter o formato de aliança, com uso conjunto de plataformas, motores e tecnologias. Só que com cada marca no seu canto e com foco onde é mais forte: Nissan com SUVs, Renault com carros de passeio e Mit com veículos 4x4.

No Brasil, as marcas já chegaram a dividir a fábrica de São José dos Pinhais (originalmente Renault),  no Paraná, que fazia a velha Frontier, o SUV Xterra e a linha Livina. Hoje, atuam em separado por aqui, enquanto a Mitsubishi é representada pelo Grupo Souza Ramos, empresa independente e com licença para fabricar modelos da marca em Catalão (GO), como ASX, L200 e Eclipse Cross.

Porém, a fábrica da Nissan em Córdoba, na Argentina, produz a atual geração da Frontier, fruto de uma parceria com a Renault e a Daimler, de onde sai também a picape Alaskan e sairia a Mercedes Classe X, cuja produção já foi encerrada na Europa. A próxima geração da L200 também pode sair dessa plataforma conjunta.

Bom lembrar que a Nissan também é dona da Datsun e da Infiniti, esta uma divisão de luxo. E que a Renault é dona da romena Dacia, origem da maioria dos projetos vendidos no Brasil (Logan, Duster, Sandero...) e ainda detém 25% da russa AvtoVaz, fabricante da Lada. Ah, a francesa também namorou a Fiat para um acordo, antes do anúncio da fusão entre FCA e PSA.

General Motors

É um dos mais tradicionais grupos automotivos do mundo. Formada em 1908, a General Motors reuniu durante quase um século as principais e mais emblemáticas marcas de automóveis dos Estados Unidos. A mais famosa para nós é a Chevrolet, mas teve Buick, Pontiac, Saturn, Oldsmobile, GMC, Hummer, além das estrangeiras Opel/Vauxhall (Alemanha/Grã-Bretanha), Daewoo (Coreia do Sul), Holden (Austrália) e Saab (Suécia).

Com a crise de 2008, a GM chegou a ser estatizada nos EUA. Para não quebrar, teve 60% de suas ações nas mãos do governo norte-americano. Até 2010, se desfez de várias dessas divisões deficitárias. Encerrou as marcas Pontiac, Saturn e Hummer (o grandão voltou agora sob a batuta da GMC), vendeu a Saab e, sete anos depois, passou a Opel à PSA.

Grupo Volkswagen

Outro grupo gigante, reúne marcas diversas de automóveis, caminhões e motos. A marca em si nasceu em 1937, fundada pelo então governo alemão de Adolf Hitler para produzir o Fusca. Em 1985, se tornou Grupo Volkswagen (ou Volkswagen AG) e hoje disputa a liderança de vendas entre os grupos automotivos com a Toyota.

Entre as marcas de carros, Audi, Bentley, Bugatti, Lamborghini, Porsche, Seat, Skoda. Isso além da própria VW, do fabricante de motos Ducati e de montadoras de caminhões, como MAN e Scania. Uma curiosidade é que a Porsche era acionária do grupo até os anos 2000, e em 2012 foi a VW quem comprou a totalidade da marca de esportivos de luxo alemã - o que, dizem, a salvou da falência total.

Entenda outros grupos automotivos

  • Ford - Especialistas dizem que a tradicional empresa americana deu uma sorte tremenda ao se capitalizar antes da crise de 2008. Afinal, a Ford vendeu vários fabricantes em menos de um ano e antes da hecatombe financeira: Aston Martin, Jaguar e Land Rover. Em 2010, ainda encerrou a marca Mercury e negociou a Volvo. Hoje, só tem a mais a Lincoln.
  • Jaguar Land Rover - Quem diria que as duas marcas britânicas iam responder a um grupo do país que foi colônia de Sua Majestade. Pois é, a Tata Motors comprou as duas de uma vez só em março de 2008.
  • Volvo Cars - Em 2010, a Geely - aquela mesma, do GC2, que parece um panda - comprou a marca sueca sinônimo de tecnologia e segurança. Em uma década, a empresa, sob gestão da chinesa, dobrou de tamanho, com mais de 705 mil veículos vendidos em todo o planeta.
  • Hyundai-Kia - Na prática, a Hyundai é dona da Kia globalmente e as duas marcas compartilham plataformas e conjuntos mecânicos. No Brasil, a relação é inusitada. A empresa mãe produz aqui a linha de compactos HB20, HB20S e Creta, enquanto o Grupo Caoa, representante oficial da marca desde os anos 1990, tem licença para fabricar ix35 e New Tucson em Goiás e vender os importados. Já a Kia é controlada pelo Grupo Gandini.
  • Daimler - A Mercedes-Benz é a marca mais famosa, seja na divisão de carros, caminhões ou chassis de ônibus. Mas o grupo também é dono da Smart, que fabrica subcompactos na Europa, além da Mitsubishi Fuso, ex-divisão de caminhões e ônibus da japonesa. Já a subsidiária de superluxo Maybach foi descontinuada em 2012.
  • BMW - O grupo bávaro é dono da marca que leva seu nome, além da britânica Mini. Também controla a empresa de alto luxo Rolls-Royce - a compra envolveu uma novela com a Volks.
  • Toyota - A japonesa é proprietária da Lexus, sua divisão de luxo, da Daihatsu, que já foi vendida no Brasil, além de marcas como Hino e Ranz. A empresa encerrou a Scion (que vendia K-Cars japoneses de olho no público jovem dos EUA, mas foi um fracasso) em 2016.
  • Honda - Com divisões de motos, náutica e agrícola, a Honda também tem a Acura, a marca de carros premium, dentro do grupo.
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