A Nissan confirmou na terça-feira (15) que terá um SUV inédito menor que o novo Kicks, e que o novo modelo será produzido na fábrica de Resende, interior do Rio de Janeiro. A informação confirma uma série de especulações que vinham sendo feitas em torno do real substituto do Kicks Play, e confirmam as informações publicadas em primeira mão pelo WM1.
No entanto, mais que uma estratégia da marca japonesa para ampliar sua participação no no Brasil, o anúncio confirma uma tendência forte de mercado nacional: a dos SUVs pequenos com foco em roubar os consumidores dos hatches de entrada - e aqui estamos falando de Volkswagen Polo, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Fiat Argo e companhia.
Em algumas marcas este movimento é claro. Na Citroën, por exemplo, o C3 já convive com o Basalt há alguns meses, e o que podemos notar é que o SUV já vende mais que o hatch. Algo totalmente natural, já que os dois modelos têm preços próximos e o consumidor atual tende a preferir os utilitários esportivos por oferecerem posição mais elevada ao volante, porte superior, maior espaço interno - muitas vezes traduzido também em um porta-malas com mais capacidade -, lista de equipamentos similar e, claro, um status superior.
Outra marca que faz essa mudança de maneira gradativa é a Fiat, com o Argo e o Pulse. Inicialmente o Pulse chegou para brigar mais em cima, com o Volkswagen Nivus, mas aos poucos foi se reposicionando como um SUV de entrada da marca e disputando clientes com o hatch "irmão" Argo a partir de preços muito próximos.
E o mais novo integrante desta trupe de SUVs pequenos de entrada é o Volkswagen Tera. Apresentado no início de março, chegará ao mercado brasileiro para se posicionar abaixo do Nivus. Suas versões e preços, no entanto, devem conflitar com algumas versões do Volkswagen Polo - que, aliás, já perdeu algumas configurações com a chegada da linha 2026.
Essas duplas formadas por um hatch de entrada e um SUV pequeno de entrada são uma tática que funciona muito bem no mercado brasileiro quando analisamos as vendas. Este cenário é muito claro na Fiat, por exemplo, com o Argo emplacando muito nas vendas diretas e o Pulse com um destaque maior no varejo.
Das 19.724 unidades comercializadas de Argo entre janeiro e março, 14.394 (72,97%) foram por vendas diretas. Já com o Pulse, dos 9.949 emplacamentos no mesmo período, 6.916 (69,51%) foram no varejo. Os números são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Outro bom exemplo de dupla dinâmica com o hatch atacando as vendas diretas e o SUV focado no varejo está dentro da Renault. O Kwid, por exemplo, já soma 11.952 carros comercializados no primeiro trimestre de 2025, e 11.217 unidades (93,85%) deste total foram no formato de vendas diretas. Já do total de 5.847 unidades do Kardian vendidas neste ano até o momento, 4.277 (73,14%) foram no varejo.
No caso da Nissan, o novo SUV de entrada não terá um hatch com o qual poderá formar uma dupla. Desta forma, o modelo terá que desempenhar o mesmo papel do Kicks Play atualmente, que é trabalhar forte nas vendas diretas na versões de entrada - especialmente junto ao cliente PcD (Pessoa com Deficiência) - para ganhar volume, e tornar o veículo rentável e lucrativo com vendas no varejo com as configurações mais caras.
Hoje, o Kicks Play é sétimo SUV mais vendido do Brasil, com 12.194 unidades emplacadas. Deste volume, 6.054 foram por vendas diretas e 6.140 nas vendas no varejo. Ou seja, quase 50% para cada tipo de comercialização.