Durante muitos anos, os hatches foram o carro-chefe do mercado brasileiro. Compactos, acessíveis e econômicos, dominaram as ruas e as listas de mais vendidos.
Modelos como Gol, Palio, Onix e HB20 definiram o gosto do consumidor nacional. Mas o cenário mudou — e rápido. Se antes eles eram os queridinhos das famílias e das frotas, hoje lutam para não seguir o mesmo caminho de queda dos sedãs.
Os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), mostram com clareza essa virada de chave.
Em 2010, os hatches concentravam a maioria absoluta das vendas de automóveis no país. Eles respondiam por mais de 50% do mercado, enquanto os SUVs ainda engatinhavam, com participação tímida, pouco mais de 7%.
Cinco anos depois, em 2015, a situação começava a mudar. A fatia dos hatches já havia caído para menos de 50%, e os utilitários esportivos davam seus primeiros sinais de ascensão, mais de 14%, ganhando espaço em meio à busca por carros com aparência mais robusta e posição de dirigir elevada.
Chegando a 2025, o retrato é outro: os SUVs se consolidaram como o novo padrão do consumidor brasileiro. Com 54,22% de participação no acumulado até setembro, eles se tornaram a principal categoria de automóveis do país.
Os hatches, por sua vez, viraram coadjuvantes, com pouco mais de 30% de participação, — e boa parte de suas vendas hoje vêm de frotistas e locadoras, não do consumidor comum.
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Mesmo com a perda de protagonismo no varejo, os hatches seguem fortes em outro terreno: as vendas diretas. Dados acumulados de 2025 mostram que, entre os dez carros mais vendidos nessa modalidade, seis são hatches.
O ranking é liderado por Volkswagen Polo (57.966), Fiat Argo (52.904), Fiat Mobi (50.535) e Renault Kwid (37.529). Eles ainda são muito procurados por empresas, locadoras e órgãos públicos, principalmente por causa do custo mais baixo de aquisição e manutenção.
Mas quando o foco muda para o consumidor final, o cenário se inverte completamente. No varejo, os SUVs dominam a paisagem: dos dez mais vendidos, sete são utilitários esportivos.
Modelos como Hyundai Creta, Honda HR-V, Volkswagen T-Cross e Chevrolet Tracker estão entre os preferidos. Nesse mesmo top 10, apenas Polo, Onix e HB20 resistem como representantes dos hatches — e nenhum sedã aparece.
Nas vendas parciais do mês de setembro, o Tera, que mal chegou já está consolidado como o carro mais vendido do Brasil, posto que até então, era do Polo, quase que de forma consecutiva nos últimos meses.
Nos últimos anos, as montadoras perceberam que precisavam criar produtos mais atraentes para o público, e os SUVs se tornaram o principal vetor dessa transformação.
Tanto que o segmento foi subdividido em várias categorias: subcompactos, compactos, médios e grandes. Essa pulverização abriu espaço para novos modelos, com propostas cada vez mais próximas dos hatches em tamanho e preço — mas com visual e posição de dirigir típicos de SUV.
Os SUVs subcompactos são o melhor exemplo dessa transição. O Fiat Pulse foi o pioneiro nessa nova leva, conquistando o público com design moderno e motores eficientes.
Em seguida, o Renault Kardian chegou para reforçar a tendência, oferecendo um pacote tecnológico interessante, ainda que com vendas mais tímidas.
Agora, o recém-lançado Volkswagen Tera promete mexer de vez nesse mercado — e pode até empurrar o Polo, seu “primo” hatch, para escanteio dentro da própria marca.
E a movimentação não para por aí. A Jeep, tradicionalmente forte entre os SUVs, já atua em praticamente todas as categorias — com o Renegade entre os compactos, o Compass entre os médios e o Commander entre os grandes. E, de olho nessa nova faixa de entrada, a marca já confirmou o lançamento do Avenger, um SUV subcompacto que chegará para disputar espaço com Pulse, Tera e Kardian.
Os números não mentem: o reinado dos hatches está chegando ao fim — ao menos no varejo. O público brasileiro se rendeu aos SUVs, e agora até os modelos mais compactos seguem essa tendência.
O que antes era sinônimo de carro popular e urbano começa a dar lugar a uma nova geração de utilitários pequenos, mais altos, com apelo visual e, principalmente, a sensação de status que o consumidor busca.
Se nada mudar, os hatches devem repetir o caminho dos sedãs: sobrevivendo nas frotas e tornando-se uma categoria de nicho, mas desaparecendo das garagens das famílias.