A globalização faz parte da economia moderna. Obviamente, a indústria automotiva está inserida nesta lógica capitalista. Muitos grupos automotivos se formaram ao longo das décadas e agregam diferentes marcas. No Brasil, contudo, as operações podem correr por caminhos diferentes.
Hyundai e Kia são um exemplo emblemático. As duas sul-coreanas fazem parte do mesmo conglomerado, que ainda tem divisões siderúrgicas, de construção civis e estaleiro - até os elevadores no país asiático são feitos pelo Grupo Hyundai.
Aqui, porém, a cena muda. A Kia é representada desde os anos 1990 pelo Grupo Gandini, responsável pela importação e venda dos veículos da marca. A Hyundai, por sua vez, era representada exclusivamente pelo Grupo Caoa - também desde a década de 1990.
A empresa, inclusive, se notabilizou por agregar bastante valor a uma marca que era vista com desconfiança. Com forte apelo de marketing e investimento pesado em publicidade, o Grupo Caoa elevou o patamar da Hyundai e emplacou boas vendas de modelos como i30 e Azera na base do custo/benefício agressivo.
Isso gerou duas divisões da mesma marca no país. Quando a matriz da empresa resolveu produzir a linha HB20 por aqui, em 2011, ficou acordado que a então nova Hyundai Motor Brasil cuidaria da linha de compactos (HB e, depois, Creta) - com uma rede de concessionárias própria e com layout distinto.
A Hyundai Caoa continuou com os importados e manteve licença para produzir modelos em Anápolis (GO). Lá, a companhia faz os SUVs New Tucson e ix35, além do caminhãozinho HR.
Por falar em Grupo Caoa, a mesma empresa que representou a Renault nos anos 1990, também é responsável pela Subaru no Brasil. Mas sua cartada mais ousada recentemente foi adquirir parte da Chery.
A marca chinesa - que chegou no Brasil no início dos anos 2000 - ficou com a reputação abalada por carros como QQ e S18. Ergueu uma fábrica em Jacareí (SP) para produzir a linha Celer, mas o compacto nunca emplacou.
No fim de 2017, a Caoa comprou 50% das operações da Chery no Brasil. E tratou de fazer carros com a chancela da marca na unidade paulista e também em sua linha de produção goiana. Das unidades, saem modelos como os SUVs da linha Tiggo e o sedã Arrizo - e outros modelos já estão programados.
As marcas francesas também têm suas peculiaridades. Mundialmente, a Renault iniciou uma aliança global com a Nissan em 1999. Com o compartilhamento de plataformas e logística, por aqui a fábrica da francesa no Paraná passou a produzir modelos da japonesa, como a picape Frontier e a minivan Livina lá pelos anos 2000.
No Brasil, porém, as operações são bem independentes nos dias de hoje. Em 2014, a Nissan ergueu sua fábrica em Resende (RJ) para a produção de Kicks, March e Versa.
Curiosamente, a marca tem divisões como Infiniti e Datsun, que não são vendidas aqui. Enquanto a Renault tem a Samsung Motors e Dacia - esta última romena serve de base para modelos como Logan e Duster.
Em 2018, mais uma marca se juntou à aliança: a Mitsubishi, depois de a Nissan comprar 34% das ações da compatriota. Só que no Brasil a Mitsubishi opera de forma “independente”.
O Grupo HPE Motors tem licença para comercializar e produzir modelos da marca japonesa por aqui, como o utilitário Eclipse Cross e a linha L200. A empresa também faz o velho Jimny em Catalão (GO) e cuida da representação dos modelos da Suzuki Veículos.
De volta às francesas, temos também a PSA Peugeot Citroën. A holding tem uma fábrica em Porto Real (RJ) desde o início dos anos 2000, de onde saem modelos como 208, 2008, C3, Aircross e C4 Cactus.
Em um passado não tão distante, as marcas trabalhavam de maneira semi-independente, mas hoje as operações estão mais centralizadas. Além disso, a maioria das revendas atua com show roons separados, mas oficinas em comum - em um conceito chamado de “revenda T”.
Lá fora, a PSA é dona da Opel, que era da General Motors e durante muito tempo inspirou as atividades da Chevrolet por aqui. Meriva, Astra, Corsa, Vectra, entre outros, eram modelos originalmente Opel. Em 2019, a PSA ainda anunciou uma fusão com a FCA - Fiat Chrysler Automobiles.
E chegamos à Fiat. Pois é, a italiana já era dona de algumas marcas como Maserati, Lancia, Abarth e Alfa Romeo - esta última já esteve duas vezes presentes no Brasil e fica na eterna promessa de retorno. Com a aquisição do Grupo Chrysler, a FCA virou um conglomerado que resolveu parte da vida das marcas americanas por aqui.
É que a Chrysler já tinha estado por três vezes no Brasil. Teve suas operações no país compradas - e encerradas - pela Volkswagen no início dos anos 1980 e chegou a fabricar a picape Dodge Dakota no Paraná entre 1998 e 2001, quando foi absorvida ao grupo Daimler, dono da Mercedes-Benz.
Com a FCA, o grupo inaugurou a nova fábrica de Goiana (PE) e passou a investir nos modelos Jeep: os SUVs Renegade e Compass, ambos sucessos de venda. Desta parceria, nasceu também outro fenômeno: a picape Fiat Toro. Em contrapartida, marcas como Chrysler e Dodge estão praticamente esquecidas por aqui.
Outros grandes grupos automotivos mundiais também estão entre as principais montadoras do país. General Motors e Volkswagen são exemplos. A americana, contudo, só trabalha aqui com a Chevrolet - apesar de ter marcas como Cadillac, Buick e GMC (depois de ter encerrado Pontiac e Oldsmobile, e ter vendido a Opel).
A Volks é outra que coleciona marcas. A Audi e Porsche fazem parte do grupo, mas as operações aqui são independentes - apesar de a Audi volta e meia produzir carros em São José dos Pinhais (PR).
A empresa alemã também é dona da espanhola Seat (que chegou a ser vendida aqui) e da tcheca Skoda. Contudo, outras marcas legais do Grupo VW, como Bugatti, Lamborghini e Bentley, existem aqui só por importação independente.